domingo, 6 de março de 2011

Marido de Jaqueline Roriz, também flagrado, tem um histórico bem enrolado








Renato Alves



Publicação: 06/03/2011 07:00 Atualização:



Mineiro de origem humilde, o cinquentenário Manoel Costa de Oliveira Neto nunca escondeu os sonhos de se tornar rico, poderoso e famoso, de ter o rosto e o nome em destaque na mídia. De certa forma, realizou todos os desejos. O primeiro, por meio de negócios nebulosos. O segundo, agindo como eminência parda nos bastidores da política brasiliense. O terceiro, ao aparecer ao lado da mulher, a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), recebendo um maço de dinheiro na famosa sala de Durval Barbosa, em vídeo amplamente divulgado na última sexta-feira.



Neto começou a vida em Brasília intermediando a venda de carros usados, na década de 1980. Acordava de madrugada para comprar os primeiros jornais que chegavam nas bancas e encontrar as melhores oportunidades nos classificados. No começo da manhã, adquiria alguns veículos anunciados e, já à tarde, os revendia. Em meados dos anos 1990, tornou-se sócio de um açougue na Asa Norte e do suspeitíssimo Super Bingão dos Importados, esquema investigado pela Polícia Federal por não entregar os prêmios sorteados. Após o fim do bingo, ele virou doleiro.



Quando ganhava a vida com o jogo, pouco aparecia. Mas, nesse meio, conheceu muita gente influente e começou a fazer fortuna. O patrimônio e a rede de amigos endinheirados aumentou com os negócios de venda e compra de moeda estrangeira. Ele ainda mantém a casa de câmbio no hotel Garvey, no Setor Hoteleiro Norte.



Manoel Neto decidiu entrar de vez no mundo da política em 1998, quando candidatou-se a deputado distrital pelo PMDB, na chapa de Joaquim Roriz. À época, ele teve uma das mais caras campanhas, mas não conseguiu a vaga na Câmara Legislativa. Apesar da derrota nas urnas, o ex-açougueiro foi compensado com a Presidência da Sociedade de Transportes Coletivos de Brasília (TCB), em janeiro de 1999.



Amigos

Na gestão de Neto, a estatal de ônibus da capital da República viveu a pior crise em 50 anos. Quando ele assumiu o cargo, a TCB era a quarta empresa do setor no DF, com 210 ônibus. Ele deixou a estatal três anos depois, com apenas 44 veículos em operação, ocupando o oitavo lugar no ranking do transporte coletivo. Nesse período, ele transferiu, com apenas uma canetada, as mais rentáveis linhas da TCB para o Grupo Amaral, de propriedade do ex-senador Valmir Amaral, à época colega de partido do presidente da estatal.



Enquanto mandava na TCB, além de Amaral, Neto tinha como amigos outras figuras poderosas no governo local e com extensa lista de processos na Justiça. Os mais conhecidos eram o também ex-senador Luiz Estevão e o ex-deputado federal Vigberto Tartuce, o Wigão (PPB). De Estevão, ele tinha o apoio para se manter à frente da estatal. Neto não se cansava de dizer aos funcionários que queria chegar onde chegara o amigo e fazia de tudo para se vestir e falar como Estevão. O senador foi processado e preso por causa do superfaturamento nas obras do Fórum Trabalhista de São Paulo.



Já com Wigão, a amizade e os negócios andavam juntos. Neto chegou a empregar a filha de Tartuce na diretoria jurídica da TCB, além de, ao menos, outras 10 pessoas de confiança do amigo. Em troca, Wigão emprestava alguns dos carros importados e de luxo para Neto passear aos fins de semana e ainda cedeu ao amigo um espaço na sua Rádio, a Atividade FM. Com a fixa ideia de chegar ao Senado, Neto apresentava o programa Forró Atividade, transmitido aos domingos. Nele, sorteava todo tipo de brindes e bajulava amigos políticos e empresários.



O ex-vendedor de carros, ex-açougueiro, ex-bingueiro e então presidente de estatal e radialista, virou ainda um empresário da noite. A casa de shows, montada em Samambaia, o mais forte reduto eleitoral de Joaquim Roriz e família, também só tocava forró. Tanto a boate quanto o programa de rádio tinham publicidade garantida nos coletivos da TCB, com adesivos e cartazes fixados dentro e fora dos ônibus, uma ilegalidade, segundo o Tribunal de Contas do DF. Mas, novamente, dessa vez filiado ao nanico PTC, ele perdeu a disputa, em 2002.



Morte no lago

As duas derrotas seguidas fizeram Neto mudar de estratégia. Ele voltou a agir somente nos bastidores para conseguir um outro cargo na segunda gestão seguida de Roriz à frente do DF. Àquela altura, já trocara a casa simples, de um pavimento na Asa Norte, por uma luxuosa mansão no Lago Norte. Também acumulava carros importados e novos na ampla garagem, além de luxuosas lanchas. Os bens, no entanto, nunca foram declarados à Receita Federal. Frequentando as altas rodas do poder da capital, Neto teve muitas namoradas. Acabou casando com a mais famosa delas, a então recém-eleita distrital Jaqueline Roriz.



Neto logo virou uma espécie de deputado sem mandato. Ele dava ordens no gabinete da esposa e, em nome dela, negociava cargos e dinheiro para campanhas eleitorais, como se vê no vídeo gravado por Durval. O ex-presidente da TCB é o homem que aparece colocando na mochila o pacote de notas entregue pelo ex-secretário de Relações Institucionais do GDF na gestão de José Roberto Arruda. No mandato da mulher, Neto se envolveu em outros escândalos. Uma das quatro filhas dele chegou a assumir cargo de confiança no gabinete da madrasta. Além disso, funcionários da mansão de Neto eram pagos pelo gabinete de Jaqueline com dinheiro público.



Para completar, Manoel Neto acabou investigado pela Polícia Civil em uma morte ocorrida no Lago Paranoá, em 17 de janeiro de 2008. Ele estava em uma de suas lanchas, participando de uma festa, quando o boné de um dos convidados caiu na água. O homem já estaria embriagado e, ao mergulhar, não conseguiu voltar à tona. Afogou-se. As circunstâncias da morte nunca foram totalmente explicadas pela polícia em virtude da falta de testemunhas e de dados precisos da perícia. No mesmo dia do suposto acidente, Neto pegou as quatro filhas e viajou para os Estados Unidos, onde Jaqueline se recuperava de cirurgias estéticas.

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