Advogado de Arruda denuncia que trechos de vídeo revelam edição "criminosa"
Defesa exige acesso à íntegra da gravação
Lilian Tahan
Publicação: 19/09/2010 09:34
O vídeo que derrubou o governo de José Roberto Arruda, com a cena em que ele aparece recebendo dinheiro de Durval Barbosa, pode ser peça-chave para entender a suposta participação do ex-governador Joaquim Roriz no escândalo de corrupção revelado pela Caixa de Pandora. Até agora, o que se conhecia sobre a principal fita da videoteca de Durval eram os poucos segundos em que Arruda aparece recostado em uma cadeira e se levanta para pegar maços de dinheiro do ex-secretário de Relações Institucionais. O vazamento de uma das provas incluídas no Inquérito nº 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ) expõe, no entanto, que o filme continua e tem em seu enredo novos elementos.
A divulgação da fita, agora com mais cenas do que a primeira versão revelada há um ano, provocou reação enérgica por parte da defesa de Arruda. “As imagens que conhecemos em novembro do ano passado não eram o único conteúdo do vídeo. Trata-se de uma edição criminosa, que mostra um conluio para incriminar o meu cliente”, disse o advogado Nélio Machado. Ele reclama de até hoje não ter conseguido na Justiça acesso aos laudos das perícias realizadas pela Polícia Federal e incluídos no Inquérito nº 650.
A edição a que se refere Machado é a linha de corte que separa o vídeo gravado por Durval em antes e depois de um telefonema entre Roriz a Arruda, ocorrido poucos segundos após Arruda receber o dinheiro de Durval. O diálogo entre ele e Roriz também foi interceptado pelos grampos feitos por Durval, mas só tornou-se público agora. Nele, os dois políticos falam sobre “uns documentos” que Arruda se dispõe a levar até Roriz (leia transcrição no quadro). Após desligar, Arruda volta a conversar com Durval e, em tom de ironia, os dois falam dos documentos que haviam sido mencionados ao telefone celular.
Código
A forma com que trataram do assunto deixa margem à interpretação de que os documentos, na verdade, seriam os maços de dinheiro entregues anteriormente a Arruda. “Da forma como está editado, não se pode ter uma compreensão de todo o contexto das conversas, o que abre a possibilidade para esse tipo de ilação”, disse Machado. Outro tema suspeito, cujo raciocínio foi interrompido pela edição, foi introduzido por Arruda, que cita o Supremo e o TSE.
Na semana que vem, os advogados de Arruda vão entrar com mais uma ação no STJ para pedir acesso ao conteúdo completo das fitas e das perícias em poder da Polícia Federal e da Justiça. O argumento da defesa do governador, cassado em função dos desdobramentos da Caixa de Pandora, é que o inteiro teor do diálogo mantido entre Arruda e Durval pode alterar o desfecho sobre o suposto caso de corrupção. “Atinja quem atingir, doa em quem doer, isso vale até mesmo contra o meu cliente, se for o caso, as informações não podem ser manipuladas. Não tenho dúvida de que Arruda foi escolhido a dedo nessa história. Houve uma cilada, uma armação”, considera Nélio Machado.
O coordenador de comunicação de Joaquim Roriz, Paulo Fona, desqualificou as novas denúncias feitas contra o candidato do PSC, que concorre pela quarta-feira ao GDF. “Isso é uma campanha promovida pelos adversários de Roriz, com o respaldo da mídia, com o objetivo de constranger os ministros do Supremo, que vão julgar na quarta-feira o recurso do (ex) governador.”
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