domingo, 19 de setembro de 2010

Pesquisa aponta que 45% dos eleitores do DF prefeririam não votar






Lilian Tahan



Luiz Calcagno



Publicação: 19/09/2010 08:01



A escolha de representantes na política é um dos pilares de um regime democrático. Mas quase metade da população do Distrito Federal é indiferente a esse princípio da organização social. Levantamento realizada pelo Instituto FSB, feita com exclusividade para o Correio Braziliense, revela que 45% dos moradores da capital da República - ou pelo menos quatro em cada 10 pessoas - não votariam se o ato não fosse obrigatório. O levantamento realizado às vésperas da eleição confirma o desinteresse pela classe política ao mostrar que a maioria dos entrevistados não sabe em quem votou no último pleito nem mesmo quanto tempo dura o mandato de um presidente da República.



Para reunir os dados, o Instituto FSB ouviu 1.006 pessoas entre 9 e 12 de setembro, portanto, a menos de um mês das próximas eleições. Foram abordados quase sempre adultos entre 26 e 35 anos, casados e com ensino médio completo. Do grupo, apenas 9% lembram em quem votaram para o Senado Federal, há quatro anos. Nas últimas eleições, mais de meio milhão de pessoas (657.217) elegeram Joaquim Roriz (PSC) para o cargo. O senador da República representa a unidade da Federação no Congresso Nacional. Em 2007, no entanto, Roriz renunciou ao cargo para escapar de processo de cassação por força da Operação Aquarela, que investiga desvios de dinheiro do Banco de Brasília (BRB). Justamente em função da renúncia é que o ex-governador foi enquadrado pela Justiça Eleitoral na Lei da Ficha Limpa e está enfrentando sérias dificuldades na sua candidatura ao governo neste ano.



Os patamares de memória do eleitorado quanto aos escolhidos para as vagas de deputados federal e distrital também foram muito baixos. Só 13% dos entrevistados sabiam responder em quem tinham votado para deputado federal e, em 2% dos casos, o grupo que participou da amostragem citou nomes de políticos que nem sequer haviam concorrido aos cargos. Na pergunta para senador, esse índice de desconhecimento foi ainda maior: 12%.



Não é difícil encontrar eleitores contrários à obrigatoriedade do voto no Distrito Federal. O estudante da Universidade de Brasília Igor Fernandes da Costa, 20 anos, vai votar pela primeira vez, mas, se pudesse, não o faria. "Para mim, deveria ser uma escolha. Só deveria participar quem tem opinião formada. Muita gente que vota só vai porque é obrigatório", disse Igor, que mora no Cruzeiro.



Também comuns são os casos de pessoas que já não se lembram em quem votaram para deputado federal e distrital em 2006. A funcionária pública Suely Freire, 56, moradora da Asa Sul, até tentou, mas não conseguiu puxar da memória o nome de seus candidatos na eleição passada: "Eu me lembro de quem votei para senador, para governador, para presidente, mas não consigo dizer em quem votei para deputado nem para a Câmara Legislativa nem para a federal", admitiu. Suely está entre a metada da população que faz questão de votar e afirma que participaria do processo mesmo se fosse uma opção. "É fundamental votar e ajudar a cidade na escolha de um deputado."



Rejeição



Cientista político e diretor do Instituto FSB, Wladimir Gramacho comenta que a pesquisa no Distrito Federal revelou índices de rejeição ao processo eleitoral próprios das democracias nas quais o voto é facultativo. No caso do DF, esse percentual elevado também, segundo acredita o especialista, é coerente com o alto número de indecisos a duas semanas das eleições. "Significa dizer que os eleitores não estão totalmente satisfeitos com as ofertas nesta campanha, faltam alternativas, por isso mesmo, as pessoas não sabem em quem votar ou mesmo não têm interesse em participar do processo", considerou Gramacho.



Mais um sintoma sobre a falta de interesse dos eleitores em relação à política foi aferida a partir de informações questionadas sobre o presidente da República, cargo mais visado numa disputa republicana. Mesmo assim, duas em cada 10 pessoas não souberam dizer quem comandava o Brasil antes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O reinado de oito anos do petista ofuscou a atuação de Fernando Henrique Cardoso, que também governou o país por dois mandatos. Seis por cento dos participantes não tinham conhecimento de que o presidente é eleito para um período de quatro anos.



A pesquisa desta semana foi a segunda rodada do levantamentos feitos em conjunto pelo Instituto FSB e pelo Correio. Na primeira etapa, os entrevistados foram questionados sobre as principais preocupações sociais no DF. O levantamento confirmou o que já havia se apurado em agosto. O maior problema para os moradores da capital é a saúde (com 43,5% das respostas), seguida da insegurança (20%) e da corrupção na Câmara Legislativa (6%). Um terço das pessoas ouvidas não soube apontar qual seria o principal aspecto positivo da capital da República.

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