Polarização na briga pelo Buriti00:43:25
Na corrida rumo ao GDF, a tradicional rixa PT versus Joaquim Roriz se repete nesta eleição
PAOLA LIMA
paola@odistrital.com.br
Quem apostou que a imensa crise política que assolou o Distrito Federal nos últimos seis meses iria transformar as candidaturas apresentadas para a eleição de outubro deste ano errou feio. Ao todo teremos 929 candidatos para nossa escolha. Dezessete por cento a mais do que em 2006, quando 788 candidatos disputaram o pleito. Este ano são sete concorrendo ao Governo do Distrito Federal (com mais sete de vice), 12 disputando as duas vagas ao Senado, 106 brigando pelas oito vagas de deputado federal e nada menos que 804 na disputa por uma das 24 cadeiras da Câmara Legislativa.
Na briga pelo Governo do Distrito Federal, a tradicional rixa PT versus Joaquim Roriz se repete nesta eleição. As muitas tentativas de se construir uma via alternativa à costumeira polarização no Distrito Federal não tiveram sucesso e ambos, PT e Roriz, terminaram apenas aglutinando legendas ao seu redor. Do lado petista, uma aliança que talvez tenha sido a maior surpresa dos últimos anos: com o PMDB do deputado federal Tadeu Filippelli, cria política do ex-governador e hoje um de seus principais desafetos. Na campanha “todos contra Roriz” entraram ainda PPS, PTB, PHS, PRB e PRP, que junto a PSB, PDT, PCdoB e PTC, elevaram para 11 o número de legendas da coligação Um Novo Caminho, encabeçada pelo petista Agnelo Queiroz.
O lado rorizista perdeu em número – são nove as legendas que compõem a coligação Esperança Renovada –, mas ganhou peso político nos últimos acordos pré-campanha. Além dos pequenos partidos que lhe davam sustentação (PSC, PMN, PRTB, PTdoB e PSDC), o ex-governador Joaquim Roriz montou sua chapa majoritária com o PR, de seu vice Jofran Frejat, o PSDB, o DEM e o PP.
Impugnação
Apesar da engrossada final, a coligação de Joaquim Roriz ainda corre riscos. O Tribunal Regional Eleitoral analisa até o próximo dia 5 de agosto três pedidos de impugnação da candidatura do ex-governador. Um deles feito pelo Ministério Público Eleitoral. Outro pelo candidato adversário Toninho de Andrade, do Psol. O terceiro pelo candidato a deputado distrital pelo PV Júlio Pinheiro Cardia. O argumento de todos é igual: Roriz se enquadraria nos impedimentos criados pela nova Lei da Ficha Limpa, uma vez que renunciou ao mandato de senador, em 2007, depois que o próprio Psol entrou com um pedido de ação por quebra de decoro parlamentar contra ele.
À época Roriz foi flagrado por uma interceptação telefônica durante a Operação Aquarela em uma conversa com o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB) Tarcísio Franklim de Moura sobre a partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões de propriedade do empresário Nenê Constantino. O então senador explicou que se tratava de um empréstimo pedido a Constantino para a compra de um embrião de uma bezerra e o dinheiro não teria qualquer relação com os cofres públicos. Mesmo assim, renunciou ao mandato.
Agora, a defesa de Roriz se prepara para contestar as impugnações relacionadas à Ficha Limpa no Supremo Tribunal Federal (STF) sob o fundamento de que uma nova regra não pode retroagir para prejudicar ninguém. Os advogados do ex-governador apostam na inconstitucionalidade da medida. Roriz acusa os adversários de quererem vencê-lo no tapetão. “Tentam impugnar minha candidatura para tentar me tirar da disputa. Porque nas ruas nenhum deles consegue me vencer”, disparou.
Para ameaçar a polarização Agnelo-Roriz duas outras candidaturas foram lançadas: a de Antônio Carlos de Andrade, do Psol, e a de Eduardo Brandão, do PV. Toninho já disputou a vaga de governador em 2006 e tem um eleitorado cativo dentro da militância mais de esquerda. Já o PV pensa em crescer na onda de sua candidata à presidência da República, Marina Silva. Os bons índices registrados pela ex-ministra do Meio Ambiente nas intenções de voto do Distrito Federal animaram o partido, que aposta ser este o melhor momento da legenda em muitos anos. Além de crescerem junto ao eleitorado, os dois partidos podem desempenhar um outro papel nesta eleição: provocar o segundo turno e acirrar ainda mais a disputa.
Um único problema pode surgir no caminho: a impugnação da candidatura de Eduardo Brandão. O candidato verde tem em seu currículo uma condenação por falência fraudulenta de uma empresa de sua família. O crime está previsto como caso de inelegibilidade pelo Ficha Limpa.
Em 2005, Brandão e seu pai foram condenados pela 1ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do DF por falência fraudulenta da empresa Socientel de Brasília Engenharia Ltda. Os advogados do candidato sustentam que tanto a pena quanto o crime já prescreveram. Logo não há mais como enquadrá-lo na Lei da Ficha Limpa. Por enquanto, também não há pedidos de impugnação da candidatura do PV.
Na disputa pelo GDF estão ainda Newton Lins, pela Coligação Quero Mudar (PTN/PSL), Rodrigo Dantas, pelo PSTU, e Ricardo Machado, pelo PCO. Rodrigo Dantas também foi alvo de ação de impugnação de candidatura. No caso dele, a alegação é de que a sua licença do cargo público para ingressar na campanha não foi feita no prazo legal. O PSTU, no entanto, assegura que tem os documentos para comprovar que a licença foi tirada da forma correta.
O PCB também chegou a lançar um candidato, o professor Frank Svensson, mas não conseguiu registrar a candidatura a tempo – protocolou o pedido no Tribunal Regional Eleitoral 20 minutos depois do encerramento do prazo.
Campanha morna
E apesar das definições, as campanhas ainda não foram de vez para as ruas. Apenas o candidato do PT, Agnelo Queiroz, tem cumprido agenda diária nas cidades do Distrito Federal. Agnelo já foi a Sobradinho, Samambaia, Ceilândia, Taguatinga, em pleno corpo-a-corpo com os eleitores. “Nunca fiz campanha para o governo, então tenho de ir para a rua cedo, para que os eleitores me conheçam como candidato majoritário”, explicou Agnelo. Os candidatos Toninho (Psol), Rodrigo Dantas (PSTU), Newton Lins (PSL) e Ricardo Machado (PCO) concentraram-se nessa primeira semana nos últimos preparativos da campanha. Reunião com candidatos, fotos para material de divulgação e definição das agendas foram as pautas mais comuns. Agendas externas foram poucas, a maior parte eventos no Plano Piloto – Rodoviária e Universidade de Brasília foram alguns dos pontos visitados.
O candidato do PV, Eduardo Brandão, deixou para domingo (11) o lançamento oficial de sua candidatura. Começou suas caminhadas pelo Lago Paranoá, com uma coleta de lixo simbólica das margens do lago.
Já Joaquim Roriz vai esperar pelo dia 17 para ir a campo. A equipe do ex-governador decidiu esperar pelo fim da Copa da Mundo para começar a campanha propriamente dita. Para compensar o atraso, eles programam uma grande festa. O dia deve começar com uma missa, passar por uma carreata em diversas cidades e terminar com o primeiro comício do candidato nesta eleição.
Confira patrimônio declarado pelos candidatos ao GDF e seus vices
GOVERNADOR VALOR PATRIMONIAL DECLARADO
Agnelo Queiroz (PT) R$ 1.150.332,00
Toninho (Psol) R$ 155.690,06
Eduardo Brandão (PV) R$ 60.000,00
Joaquim Roriz (PSC) R$ 4.129.611,60
Newton Lins (PSL) R$ 416.029,00
Ricardo Machado (PCO) R$ 13.000,00
Rodrigo Dantas (PSTU) SEM VALORES DECLARADOS
VICE-GOVERNADORVALOR PATRIMONIAL DECLARADO
Tadeu Filippelli (PMDB) R$ 3.970.537,00
Tetê Monteiro (Psol) R$ 21.941,00
Luiz Maranhão (PV)R$ 700.000,00
Jofran Frejat (PR) R$ 5.364.387,74
Paulo Vasconcelos (PTN) SEM VALORES DECLARADOS
Expedito Mendonça (PCO) SEM VALORES DECLARADOS
Rosa Olímpia (PSTU) R$ 140.000,00
Câmara Legislativa cada vez mais cobiçada
A procura por uma das 24 vagas na Câmara Legislativa cresceu. Em 2006, tivemos 665 candidatos a distrital. Uma concorrência de 27 candidatos por vaga. Este ano, são 804 interessados, que subiram a concorrência para 33 candidatos por vaga. E a vida de distrital parece mesmo ser muito boa. Dos 24 distritais desta legislatura, 18 tentam a reeleição. Dos seis restantes, um ficou sem partido (Rogério Ulysses), um desistiu de concorrer (Aguinaldo de Jesus, do PRB) e os outros quatro almejam uma vaga na Câmara dos Deputados.
Nem mesmo as denúncias da Operação Caixa de Pandora afastaram políticos da disputa eleitoral. Aqueles que escaparam de serem expulsos de seus partidos e de se enquadrar nas novas leis de Ficha Limpa seguem firmes e fortes rumo a mais uma eleição. São exemplos os peemedebistas Benício Tavares, Roney Nêmer e Odilon Aires, o ex-secretário de Educação José Luiz Valente, Benedito Domingos e Berinaldo Ponte, do PP, e Aylton Gomes (PR). Os democratas Roberto Giffoni e Geraldo Naves, que ganhou na Justiça o direito de permanecer no DEM e ter legenda para outubro, também são candidatos.
E se quem está na Casa não quer deixá-la, quem já passou por ela também sonha em voltar. Entre os candidatos deste ano temos pelo menos 14 ex-distritais brigando para voltar à Câmara. Tem gente das primeiras legislaturas, como o petista Cafu e o pedetista Peniel Pacheco, tem ex-presidentes, como Edimar Pireneus (PSC) e Fábio Barcellos (PDT), e tem até aqueles que deram uma passadinha na Câmara Federal, mas optaram pela local, como Maninha (Psol), Chico Vigilante (PT) e Ricardo Noronha (PSL).
Uma casa de ricos
Um dos motivos para o grande interesse pela Câmara Legislativa pode ser a sorte que ela traz aos seus ocupantes. De acordo com os dados declarados pelos distritais ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), 19 dos 24 parlamentares aumentaram o patrimônio nos últimos quatro anos. Em alguns casos, a evolução passou de 2.000%. E se em 2006 apenas quatro distritais poderiam ser considerados milionários, em 2010 esse número mais que dobrou: 11 deputados se enquadram neste perfil.
A democrata Eliana Pedrosa é quem tem o maior patrimônio: declarou R$ 7,1 milhões em bens. Uma melhoria em relação a 2006, quando era dona de R$ 3 milhões. Antes de ser deputada, Eliana era proprietária de empresas de vigilância e segurança. Com o mandato se afastou das empresas. Mas isso parece ter feito bem, já que o patrimônio da deputada cresceu 136% desde então.
Se Eliana é a mais rica, Cabo Patrício foi o mais bem-sucedido. Nos quatro anos de mandato, o patrimônio do militar cesceu mais de 2.000%. Os R$ 6 mil declarados por ele em 2006 transformaram-se em R$ 137,3 mil quatro anos depois. Se o crescimento foi impressionante, os valores ainda não o deixam mais rico que seus colegas. Ao contrário, seu patrimônio só é maior que o do democrata Raad Massouh. Raad, inclusive, é um dos três distritais que empobreceram nestes quatros anos. O democrata declarou ter R$ 73,5 mil este ano, 91% a menos do que tinha no início da legislatura – R$ 885 mil. Além de Raad, Wilson Lima (PR) e Jaqueline Roriz (PMN) também declararam ter reduzido o patrimônio.
Confira a evolução patrimonial dos distritais nos últimos quatros anos:
Deputado 2006 2010 Evolução
Eliana Pedrosa (DEM) R$ 3.027318 R$ 7.160.525+136,5
Paulo Roriz (DEM) R$ 1.765.675R$ 3.900.634+120,9
Benedito Domingos (PP) R$ 2.566.864R$ 3.012.529+17,3
Jaqueline Roriz (PMN) R$ 2.975.822R$ 2.846.952-4,3
Milton Barbosa (PSDB) R$ 1.130.516R$ 2.004.189+77,3
José Antônio Reguffe (PDT) R$ 775.183 R$ 1.864.655+140,5
Rôney Nemer (PMDB) R$ 1.144.670R$ 1.708.582+49,3
Chico Leite (PT) R$ 1.224.666R$ 1.524.275+24,5
Alírio Neto (PPS) R$ 188.582 R$ 1.262.339+570
Roberto Lucena (PR) R$ 910.306 R$ 1.192.465+31
Cristiano Araújo (PTB) R$ 402.420 R$ 1.061.355+163,7
Benício Taavres (PMDB) R$ 409.900 R$ 657.875 +60,5
Raimundo Ribeiro (PSDB) R$ 123.820 R$ 601.088 +386
Paulo Tadeu (PT) R$ 290.306 R$ 421.277 +44,9
Dr. Charles (PTB) R$ 145.591 R$ 419.496 +188,1
Wilson Lima (PR) R$ 287.152 R$ 259.208 - 9,73
Aguinaldo de Jesus (PRB) R$ 54.680 R$ 226.000 +313,3
Aylton Gomes (PR) R$ 50.000 R$ 172.915 +245,8
Batista das Cooperativas (PRP) R$ 30.800 R$ 172.793 +461
Erika Kokay (PT) R$ 136.971 R$ 145.817 +6,5
Cabo Patrício (PT) R$ 6.000 R$ 137.396 +2.190
Raad Massouh (DEM) R$ 885.000 R$ 73.500 -9,1
Geraldo Naves (DEM) e Rogério Ulysses (sem partido) não apresentaram declaração de bens.
Fonte: O Distrital
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