quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Embates entre os candidatos ao GDF tomam TV, rádio, as ruas e a Justiça






Ricardo Taffner



Publicação: 27/10/2010 08:00





A disputa eleitoral no Distrito Federal está muito além do debate de ideias. A histórica rixa entre petistas e rorizistas, que há 20 anos divide a cidade entre vermelhos e azuis, ganha intensidade nos últimos movimentos do segundo turno. Os candidatos aproveitam o horário eleitoral gratuito para trocar acusações de irregularidades e de promessas não cumpridas. Essa animosidade cria uma batalha jurídica entre as coligações e acirra os ânimos. O clima de tensão acaba tomando conta das ruas e cria um embate entre as militâncias. A instabilidade nas ruas é reflexo da guerra travada nas campanhas pelos candidatos. Neste segundo turno, os advogados das duas chapas ingressaram com 23 processos no TRE-DF.



O Riacho Fundo, por exemplo, já foi cenário de pelo menos três desentendimentos entre cabos eleitorais e simpatizantes das duas chapas. Na última segunda-feira, o petista cancelou um comício na cidade, alegando, entre outras coisas, a suspeita de um novo confronto. “Não tenho milícias, tenho militantes. Não fomos nós que introduzimos o componente de intolerância na campanha”, diz Agnelo Queiroz (PT). Os grupos também se agrediram em frente a uma emissora de televisão, no penúltimo debate do mês passado.



Os embates fizeram com que o candidato petista solicitasse, no fim do primeiro turno, o reforço das forças federais, o que foi vetado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do DF. O próprio ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, afirmou que a situação no DF merecia atenção especial da Polícia Federal. O efetivo foi reforçado com agentes de outros estados. De toda sorte, Agnelo conta com a proteção de seis policiais civis requisitados pela coligação, conforme previsto na Lei Orgânica do DF, além de voluntários. A chapa Esperança Renovada afirma também ter um esquema especial de segurança para Weslian Roriz (PSC), mas não detalha a estrutura criada.



Segundo o secretário adjunto de Segurança do DF, coronel Adauto Gama, não existe motivo para tanta preocupação. “Acompanhamos todos os eventos eleitorais para evitar que um desavisado ou um cidadão de outro partido provoque uma briga. Todos os enfrentamentos que surgiram foram rapidamente debelados”, garante o coronel. Para o dia da eleição, segundo Gama, todo o contigente policial do DF será colocado na rua sob a supervisão de um gabinete de gestão formado por representantes dos órgãos de segurança locais.



Queixas ao juiz

A maioria das ações na Justiça trata de representações da coligação Um Novo Caminho, do candidato petista. A equipe jurídica de Agnelo é responsável por 17 queixas, entre pedidos para proibir a veiculação de trechos das propagandas da concorrente e para conseguir direitos de resposta. Segundo o advogado Luís Carlos Alcoforado, o embate jurídico se deve a excessos do grupo de Weslian. “O desespero sobre uma derrota que se avizinha aguça um modo desaconselhável de se fazer campanha. Eles criam mentiras e fazem o falseamento de fatos que exigem uma resposta imediata nossa”, critica Alcoforado.



Para o advogado Adolfo Marques da Costa, da chapa de Weslian, a tensão entre Roriz e o PT sempre existiu e faz parte da história brasiliense. “É claro que aproveitamos as falhas da outra coligação e da vida pregressa do candidato e dos seus aliados. Exploramos isso como eles também têm explorado o contrário”, afirma. Na opinião de Costa, o acirramento dos ânimos foi provocado pela própria Justiça, ao não concluir o julgamento do registro de candidatura de Joaquim Roriz (PSC) e criar um clima de instabilidade jurídica. No primeiro turno, as propagandas petistas aproveitaram para dizer que o ex-governador foi barrado por não ser ficha limpa .



O grupo azul apresentou, neste mês, só duas representações. O advogado destaca, entretanto, que eles atuaram em cerca de 200 ações no primeiro turno. Costa diz que recebe previamente os textos dos programas de Weslian para verificar os aspectos jurídicos. “Muitas vezes, a coordenação avalia que, politicamente, vale a pena arriscar algumas coisas”, explica.



Eles também defendem a candidata em quatro ações de investigação judicial eleitoral. Os embates na Justiça não devem terminar com o fim das votações no próximo domingo. “Haverá um desdobramento natural das representações ingressadas nesse período”, diz Alcoforado. “Até hoje, por exemplo, temos resquícios da campanha de 2002, que foi uma das mais acirradas, comparável à atual disputa”, lembra Marques da Costa.





DECISÕES

A Justiça Eleitoral concedeu ontem duas decisões favoráveis à chapa de Agnelo Queiroz (PT). O desembargador federal Moreira Alves determinou a retirada de propaganda eleitoral, com o depoimento suspenso pelo TRE-DF, dos sites vinculados à chapa Esperança Renovada. O juiz Teófilo Caetano também mandou suspender trecho do programa de Weslian Roriz (PSC) com a informação de que a campanha petista teria distribuído lanches na Estrutural.





APLICAÇÃO DA LEI

O Supremo Tribunal Federal (STF) volta a julgar, hoje, a Lei da Ficha Limpa. Em 24 de setembro, os ministros suspenderam a sessão que tratava da validade da aplicação da norma para o registro de candidatura de Joaquim Roriz (PSC). O ex-governador havia sido impugnado por ter renunciado ao Senado para fugir da cassação. A Corte não conseguiu resolver o empate de cinco votos para cada lado. Na tarde de hoje, os magistrados tratarão da lei no recurso de Jader Barbalho (PMDB-PA).





25 PONTOS DE DIFERENÇA

O Instituto Datafolha divulgou mais uma pesquisa sobre as intenções de voto para o Governo do Distrito Federal (GDF). Foram ouvidos ontem em todo o DF 1.112 pessoas em todo o DF. Agnelo Queiroz (PT) ficou com 55% da preferência dos entrevistados, subindo um ponto percentual em relação ao último levantamento — realizado na sexta-feira da semana passada. Weslian Roriz (PSC) perdeu um ponto entre uma sondagem e outra, caindo de 31% para 30%. Brancos e nulos somaram 7% e indecisos, 8%. No estudo anterior, pretendiam votar em branco ou anular a escolha 8% dos eleitores ouvidos, enquanto 7% ainda não haviam decidido quem gostariam de eleger. Se considerados apenas os votos válidos, o candidato petista oscilou positivamente de 64% para 65% das intenções, enquanto a postulante do PSC foi de 36% para 35%. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) sob o número 40.068/2010.

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