segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Da joalheria para a cadeia






O ex-diretor da estatal paulista Dersa - Desenvolvimento Rodoviário S.A. - Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, saiu de casa no dia 12 de junho com planos de comprar uma joia para presentear a mulher pelo Dia dos Namorados. Ele negociava com o comerciante Musab Asmi Fatayer a compra de um bracelete cravejado de brilhantes por R$ 20 mil. Antes de fechar o negócio, porém, era preciso submeter a peça a uma avaliação profissional. Paulo e Musab foram até a joalheria da Gucci, no Shopping Iguatemi, um dos endereços comerciais mais luxuosos da capital paulista. Os funcionários da joalheria descobriram que a joia havia sido furtada daquela loja um mês antes. A polícia foi chamada e prendeu em flagrante Paulo e Musab.





O Boletim de Ocorrência no 3.264/2010 do 15º Distrito Policial de São Paulo, obtido com exclusividade por ÉPOCA, ajuda a dar contornos mais nítidos ao personagem que se notabilizou por fabricar notícias desagradáveis para o candidato tucano José Serra. Em maio deste ano, ÉPOCA revelou que Paulo Preto aparecia no relatório da Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal (PF). Segundo a PF, em 2007 ele teria recebido da empreiteira Camargo Corrêa, responsável por obras do Rodoanel, o anel viário em torno de São Paulo construído pela Dersa, quatro pagamentos mensais de R$ 416.500. Em agosto, Paulo Preto foi acusado de desviar R$ 4 milhões de um suposto caixa dois da campanha de Serra à Presidência. Ele nega envolvimento tanto em um caso como em outro, que surgiram durante a campanha eleitoral.





Quando foi preso por causa do bracelete, Paulo Preto estava com R$ 11.242 em dinheiro vivo, distribuídos entre os bolsos do casaco bege (R$ 8.500) e da calça (R$ 2.742). Musab tinha R$ 1.614 no bolso de sua jaqueta preta. Segundo o boletim, Paulo Preto dirigia sua BMW Z4, ano 2009, de cor preta, avaliada em mais de R$ 130 mil. Após o flagrante por receptação de produto furtado, Paulo Preto prestou depoimento à delegada Nilze Baptista Scapulatiello. Segundo o boletim, ele começou dizendo que "estava comprando o tal objeto (o bracelete de brilhantes) da pessoa de Musab por R$ 20 mil". Musab, por sua vez, segundo o boletim, disse que havia comprado a joia "de um desconhecido em seu escritório por R$ 18 mil".





Por coincidência, enquanto Paulo Preto era preso, chegava à mesma delegacia o deputado federal e ex-candidato ao governo de São Paulo Celso Russomanno (PP), adversário dos tucanos na política paulista e aliado da petista Dilma Rousseff. Russomanno foi à delegacia para registrar uma ocorrência contra um segurança que tentara impedi-lo de estacionar seu carro próximo à garagem de um edifício. "Quando eu cheguei à delegacia, Paulo Preto tinha acabado de ser preso. A delegada estava sofrendo a maior pressão. Estava todo mundo ligando para ela: delegado, delegado seccional, delegado regional, o diretor do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), delegado-geral de polícia, desembargador, todo mundo pedindo para soltar o cara", diz Russomanno. Diante daquele quadro, Russomanno diz que também passou a fazer pressão. Mas para que a delegada não soltasse Paulo Preto. "Eu falei para ela: a senhora não pode fazer isso. A senhora vai responder por crime de prevaricação. A senhora vai explicar o que para os clientes? Que ele está de boa-fé? Como ele está de boa-fé comprando uma joia furtada com dinheiro na meia, no casaco, na camisa?"





O advogado de Paulo Preto, José Luiz de Oliveira Lima, nega que tenha havido pressões políticas para que seu cliente fosse libertado. "Não teve pressão nenhuma. Como advogado, argumentei com a delegada." Ele admite, porém, que um desembargador, "primo do Paulo", ligou para a delegada "para saber o que estava acontecendo". Oliveira também nega que Paulo Preto tivesse dinheiro escondido nas meias. Russomanno diz ter ouvido a afirmação da própria delegada e dos investigadores. "A delegada me relatou isso. Se não está no boletim de ocorrência, deve estar no inquérito", afirma. "Os investigadores me disseram lá que ele tinha dinheiro na meia, na calça e no casaco."





Paulo Preto e Musab ficaram na cadeia da noite do dia 12, um sábado, até a tarde do dia 14, uma segunda-feira, quando um juiz determinou que eles fossem soltos. No dia 13 de outubro, o desembargador Francisco Menin, do Tribunal de Justiça de São Paulo, determinou a suspensão da ação de receptação por produto furtado contra os dois até que um recurso que pede a extinção do processo seja julgado. Outra decisão judicial já havia restituído a Paulo Preto os R$ 11 mil, em espécie, apreendidos no Dia dos Namorados.Da Revista Época, dos tucanos, da Globo

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