quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Começos






Depois de dois mandatos como presidente, Luiz Inácio Lula da Silva deixa o posto com grandes realizações a seu crédito. Dilma Rousseff, que o sucederá, está ansiosa por aceitar o legado de Lula.





Neste caso não é questão de aceitar uma "herança maldita". Lula lega uma "herança bendita", fato que apenas seus mais recalcitrantes críticos deixam de reconhecer.O Brasil teve sorte em contar com Lula. Não é apenas questão de o país ter se beneficiado de circunstâncias internacionais favoráveis.





Na verdade, as condições internacionais estiveram longe de ideais para o Brasil, e foram ainda piores para o restante do mundo, desde que eclodiu a crise financeira mundial de 2008.





Em última análise, os líderes políticos constroem os seus próprios destinos.Lula deixou sua marca de maneira muito pessoal. Sucedê-lo será difícil.Pouquíssimos líderes mundiais contam com a poderosa combinação de qualidades que Lula ofereceu ao seu governo: experiência de vida no Nordeste e no Sudeste; origens trabalhadoras e experiência no piso da fábrica, no sindicalismo e na organização política; três fracassos eleitorais sucessivos antes do sucesso -e virtualmente nenhum deles reteve ao longo do processo o seu bom humor e a capacidade de falar a língua do povo.





As estatísticas falam por si. Duas delas são especialmente reveladoras. Enquanto o desemprego nos Estados Unidos era de 9,8% em novembro de 2010, no Brasil o índice foi de 5,7%, o mais baixo desde 2002. E 71% dos brasileiros aprovam o ataque de Lula à pobreza. Há problemas, claro.





Significa pouco dizer que Lula causa "inveja e ciumeira" aos Estados Unidos. O presidente eleito, na sua primeira entrevista ao "Washington Post", já usou uma linguagem menos preconceituosa.





Dilma Rousseff lembrou ao PT que um partido político que elegeu um operário e, em seguida, uma mulher "deposita um grande desafio em nossos ombros".Ela não tem a experiência de vida de Lula, isso é certo.Mas a presidente Rousseff levará para a Presidência uma postura forte, experiência administrativa e longo envolvimento no centro do governo Lula.





Dilma talvez tenha pago mais caro que Lula por sua oposição à ditadura militar.Manterá alguns dos ministros mais experientes do predecessor. Desfrutará, pelo menos por enquanto, de amplo apoio político. Sua agenda de governo inevitavelmente envolverá grandes empreitadas internacionais, com destaque para os preparativos da Copa do Mundo e da Olimpíada.Ao assumir, desejamos tudo de bom a ela e ao Brasil.





Por:Kenneth Maxwell - americano, brasilianista, colunista da Folha

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