Para evitar insatisfações, Dilma adia definição de cargos do 2º escalão
Denise Rothenburg
Ivan Iunes
Edson Luiz
Publicação: 29/12/2010 08:35 Atualização: 29/12/2010 08:43
Colaborou Antônio Elias
Especial para o Correio
A presidente eleita, Dilma Rousseff, decidiu adiar a definição da maioria dos cargos de segundo escalão para depois da eleição do futuro presidente da Câmara. A ordem é evitar que eventuais insatisfações na hora da escolha de diretores e presidentes de estatais e autarquias terminem por levar os partidos a descontar as frustrações na candidatura de Marco Maia (PT-RS) para permanecer no comando da Casa.
A avaliação do núcleo político que irá assumir com Dilma é a de que a própria candidatura de Maia já foi fruto da guerra interna no PT, onde parte expressiva da bancada se sentiu desprestigiada na composição do ministério. E, no rastro desse processo, veio a formação de um grupo de aliados gravitando em torno do ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que anunciou formalmente a existência de dissidentes em busca de um candidato capaz de agregar a base aliada e derrotar Maia.
Um deputado petista, sob a condição de anonimato, descreveu como “muito perigosa” a candidatura de um nome como Aldo Rebelo. “É uma situação complicada para o Marco Maia. A Casa tem dissidentes, insatisfeitos com ele e, principalmente, com o governo. Tudo piora porque a própria oposição, embora tenha apoiado o Marco, está dividida. Tirando o PT, praticamente todos os outros partidos estão rachados”, avaliou. O Planalto utilizará os próximos 30 dias para tentar contornar os focos de contrariedade.
Dentro do futuro núcleo palaciano, a candidatura de Aldo surge como “flor do recesso”, aquela que só dá o ar da graça no período em que as notícias são fracas. A avaliação é a de que o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), não irá arriscar perder o apoio para presidir a Casa daqui a dois anos, rompendo agora o acerto feito com o PT. Por isso, o peemedebista tentará atrair o máximo de votos da sua bancada em favor de Maia, embora esteja com dificuldades para conter a insurgência capitaneada pelos mineiros. O PTB, que não conseguiu um ministério nessa primeira leva, também não vai querer enfrentar o partido de um governo recém eleito e ficar fora da montagem do segundo escalão. O PR, que já conseguiu o Ministério dos Transportes — e conta com a permanência de Luis Antonio Pagot na presidência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) — também não deve quebrar o script montado para a Presidência da Câmara.
Cobranças
Enquanto avalia as chances de sucesso dos dissidentes em torno de Aldo Rebelo, Dilma cobra dos futuros ministros os primeiros passos no levantamento de prioridades de cada pasta e composição para os postos de segundo escalão. Ontem, passaram pelo seu gabinete de transição, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Antônio Palocci (Casa Civil), Míriam Belchior (Planejamento), Alexandre Padilha (Saúde), Fernando Pimentel (Desenvolvimento)e José Eduardo Cardozo (Justiça). Completaram a lista o futuro secretário executivo da Previdência, Carlos Gabbas, além do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e do diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. “A Dilma, pela própria personalidade, quer tratar de cada aspecto do governo, ter voz ativa nas decisões, saber dos nomes que estão sendo tratados para o segundo escalão. Mas não deve haver grandes mudanças nas próximas semanas, em especial nas estatais. As principais permanecerão sob controle das atuais direções”, antecipou Pimentel.
Alguns ministros que serão empossados manterão, pelo menos por uns dias, os secretários de seus antecessores. É o caso do Ministério da Justiça, que já tem o nome de seu secretário executivo, o atual titular da pasta, Luiz Paulo Barreto, mas não os dos outros integrantes da equipe. Cardozo decidiu que não vai anunciar novos nomes de imediato — apenas o diretor-geral da Polícia Federal deve ser confirmado (leia abaixo) para evitar as especulações e a disputa interna que costumam tomar a corporação.
Alencar volta a preocupar
Ullisses Campbell
São Paulo — Depois de dois dias com quadro clínico estável, o vice-presidente, José Alencar, voltou a preocupar a equipe médica do Hospital Sírio-Libanês. Ontem, ele voltou a ter sangramentos intestinais. Segundo o último boletim médico, divulgado no início da noite, Alencar foi submetido a uma arteriografia, procedimento adotado para tentar detectar a origem do sangramento, que desde a última quarta vem exigindo transfusões de sangue e sessões de hemodiálise no vice-presidente.
De acordo com a equipe, o procedimento foi bem-sucedido. Os médicos conseguiram determinar a origem da hemorragia e estancar o sangramento, provocado por um tumor. Alencar suportou bem a intervenção e dormiu na Unidade de Terapia Intensiva, sob sedação. Em função do exame, os médicos descartaram a alta da UTI, prevista para hoje, e consideram remota a possibilidade de liberação para que ele participe da cerimônia de posse da presidente eleita, Dilma Rousseff, no sábado. Na quarta passada, Alencar teve um sangramento grave, que só foi controlado com medicamentos na madrugada do dia seguinte. Nessa crise, o paciente recebeu 2,5 litros de sangue em transfusão.
Alta velocidade
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu ontem agenda em Pernambuco, onde chegou no início da tarde e seguiu direto para a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da fábrica da Fiat, no Complexo Industrial de Suape. Em discurso, ele afirmou que a presidente eleita, Dilma Rousseff, não irá deixar o “carro parar”. “A Dilma fará um extraordinário governo e dará sequência ao projeto que ela mesma ajudou a construir. O carro já está andando a 110km/h, e ela vai levar a 130km/h. Poderá reduzir a 119km/h quando estiver em uma curva, mas não poderá deixá-lo parar”, disse. À noite, Lula foi ovacionado por milhares de pessoas ao chegar a uma solenidade no Marco Zero (foto), no Recife Antigo, para anunciar o início das obras do Cais do Sertão e a cessão de uso gratuito de um terreno para a Associação Orquestra Criança Cidadã Meninos do Coque.
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