sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Visual que Dilma assumirá como presidente ainda é uma incógnita




A presidente eleita nunca teve a vaidade como uma de suas prioridades, mas viu-se obrigada a remodelar o rosto e o cabelo na campanha. Depois de empossada, o desafio será definir um estilo que corresponda à importância do cargo







Olívia Meireles



Publicação: 31/12/2010 08:00 Atualização:



[FOTO1]Eleita pela revista Forbes uma das três mulheres mais poderosas do mundo, a presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, já se tornou uma imagem reconhecida globalmente. Uma mudança drástica se comparada à trajetória dessa senhora de 63 anos até 2008. Naquela época, ela era uma ministra de características técnicas com pretensões políticas — se é que existiam — muito mais modestas.



Nos últimos dois anos, Dilma teve de ser repensada como candidata. Não apenas politicamente. Visualmente também. Agora, a 24 horas da posse, ela deve passar por nova transformação — aquela que cabe à presidente do país mais importante da América Latina. O “new look de candidata” — como definiu o governador eleito do Acre, Tião Viana (PT) — está longe de ser unanimidade. E o dilema é saber como a ministra pouco apegada à vaidade vai se vestir a partir de amanhã, na condição de uma das mulheres mais poderosas do mundo.



O que se convencionou como “imagem pública” certamente não estava nas prioridades de Dilma. O anúncio da candidatura a obrigou a encarnar uma série de mudanças. A fama de brava, por exemplo, foi suavizada na marra. Para resolver o problema, primeiro ela tirou os óculos e fez plástica para atenuar as linhas de expressão. Em seguida, emagreceu para ficar mais elegante. O cabelo começou a mudar quando ela precisou passar por um tratamento contra o câncer, até que ela os clareou e os penteou para trás. Tudo em etapas, para que o público não estranhasse.



Dilma, no entanto, modificou nada — ou quase nada — na maneira como se veste. Continua optando por ternos apagados, que pecam não só por falta de grife, mas também por falta de personalidade. As cores que ela escolhe são básicas: azul, vermelho, creme, preto e cinza. E o principal problema: por alguma razão, os tamanhos das peças são sempre maiores que seu corpo. “Nunca se espera surpresas quando a presidente se arruma. Nem na cor da roupa e muito menos no modelo”, analisa Andreia Miron consultora de moda e professora da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo.



A falta de um profissional para auxiliar Dilma a se vestir fez diferença na hora de criar a imagem política. “Parece que são duas pessoas diferentes. Do pescoço para cima, onde a presidente contou com uma ajuda profissional, ela é uma mulher superelegante. Do pescoço para baixo, ela parece alguém lutando para definir um estilo. Ela já é clássica, agora tem que aprender a ser elegante”, analisa Cleuza Ferreira, empresária da moda em Brasília.



Até na Vogue

A imagem de Dilma Rousseff causa tanta intriga no mundo que até a Vogue Itália dedicou um artigo exclusivo para o guarda-roupa da futura presidente brasileira. A jornalisa Alice Capieghi analisa o passado de guerrilheira de Dilma e o compara com os ternos clássicos que ela usa hoje em dia. A publicação tenta avaliar como uma mulher dessa idade, que não é muito bonita,consegue conquistar um país inteiro em uma era que a política virou sinônimo de imagem. “Qual a mensagem que Dilma está querendo passar para um mundo obcecado com imagem?”, indagam.



A equipe dela até tentou reverter o cenário. No início da campanha foi montado um quadro de referências com imagem de várias mulheres que estiveram em posições de poder. Estavam lá fotos de Michelle Obama, Carla Bruni e Hillary Clinton. Dilma, porém, nunca deu atenção à pesquisa. Não achava que o tema tinha importância, e até hoje ela demonstra um certo incômodo quando se aborda, na imprensa, o estilo (ou a busca dele).



Durante a campanha, até houve uma tentativa de reverter esse quadro considerado problemático pelos marqueteiros. O exemplo era a primeira-dama norte-americana, Michelle Obama, que conquistou o eleitorado quando começou a fazer referências à moda e à criação dos filhos em programas femininos. A equipe de Dilma acertou com Alexandre Herchcovitch, o maior estilista nacional, para que ele fosse consultor de estilo durante a campanha. A ideia era montar um apelo visual com roupas de outros estilistas e criações próprias. Semanas depois do anúncio, a dupla comunicou que a parceria nunca foi concretizada por incompatibilidade de agendas.



Rumores, no entanto, indicam que Dilma não teria aceitado os pitacos mais modernos de Herchcovitch. E ele não abriu mão de desenhar roupas com as características arrojadas do seu trabalho. “Ela ainda não acertou o estilo. Mas eu acredito que até o fim do mandato, vai perceber que é um modelo feminino e a sua figura é importante. Se ela quiser, ainda pode surpreender com as roupas”, acredita Cleuza Ferreira.



COM POTENCIAL



Kelly

Em julho do ano passado, quando a candidatura à Presidência ainda estava na categoria “rumores”, Dilma surgiu com uma bolsa Kelly, da Hermés. Nenhum problema, se a peça não custasse, em média, R$ 20 mil. Logo, ela correu para desmentir que não se tratava de um modelo original — teoricamente, era uma cópia comprada em uma lojinha na Itália.



[FOTO2]Cores

Difícil ver Dilma em cores que não sejam azul ou vermelho. A peça não foi unanimidade, mas causou surpresa: um azul chamativo com rendas roxas, na diplomação, há duas semanas. O modelo foi criado por Luísa Standlander, a mesma estilista que desenhou o tailleur branco off-white que ela vai usar na posse.



Crocs

No gabinete, Dilma busca o clássico. Pérolas, terninhos e sapatos tipo chanel. Em casa, naturalmente, ela é um pouco mais descontraída. Pouco antes do primeiro turno, apareceu de Crocs, um sapato canadense emborrachado, que gera amor e ódio entre os apaixonados por moda. Para completar, ela combinou a peça com modernos óculos escuros.



O poder e a indústria

Embora seja óbvio que chefe de Estado tem uma função e primeira-dama, outra, completamente diferente, quando o assunto é estilo, é praticamente impossível não compará-las. E apesar de moda não ser — mesmo — o assunto mais importante do cargo, é natural notar o que essas mulheres usam. “Por mais estranho que pareça, faz parte do trabalho delas impulsionar a indústria da moda. Mulheres poderosas usando roupas brasileiras é uma maneira de ajudar o consumo e a valorização indústria têxtil nacional. Todo mundo fica curioso para saber o que elas estão usando”, argumenta Cleuza Ferreira, empresária de moda.



Nos Estados Unidos, a primeira-dama, Michelle Obama, é conhecida pelo seu estilo. Ela mistura peças de roupas baratas com as de jovens estilistas. Durante a campanha de Barack Obama, o tema foi explorado em suas entrevistas, para tirar a fama de durona. Ela já chegou a ter 76% de aprovação popular, número maior que o do marido. A fama de ícone fashion rendeu mais de US$ 2,7 bilhões de dólares para as 29 empresas que Michelle já foi vista usando roupas por aí. No Brasil, ninguém conseguiu igualar a primeira-dama americana. Mas não é por isso que Dilma deixa de gerar menos expectativa. “Não adianta fugir desse papel. Dilma é uma imagem pública internacional. Cabe a ela saber como vai representar o povo e a moda brasileira no mundo”, conclui a consultora de moda e professora da Faculdade Santa Marcelina Andréia Miron. (OM)

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