Cem dias
O Globo
Caminhando para seus cem primeiros dias de governo, período de graça em que tradicionalmente se dá aos governantes o benefício da dúvida, a presidente Dilma Rousseff está acertando onde Lula errou e errando onde Lula acertou. Assim como Lula surpreendeu para melhor no primeiro governo, Dilma está surpreendendo pela capacidade de ser objetiva, sem se deixar levar por politicagens.
Mas ganho na política externa menos personalista e mais pragmática, e na condução do governo com sobriedade, maior rigor de postura, pode ser anulado pelos problemas econômicos. Os índices de popularidade são semelhantes aos de Lula no seu terceiro mês de governo, mas a diferença talvez seja que ela está com cerca de 40% de saldo positivo com uma economia que vem de um crescimento de 7,5% do PIB, mas está declinando.
Lula tinha índices parecidos num primeiro ano em que teve de tomar medidas muito duras, e entrou pelo segundo mandato mantendo essa mesma média de popularidade, que foi crescendo gradativamente à medida que a política de distribuição de renda ia se consolidando, e chegou à estratosfera dos 80% em 2010.
Talvez por isso Dilma mantenha o sonho de a economia crescer 5% este ano, quando tudo indica que, se fizer o que tem que ser feito para conter a inflação, ela crescerá no máximo 4%, ou até menos, metade do ano anterior. Talvez ela esteja errando onde Lula acertou: deveria puxar o freio no primeiro ano para depois tentar deslanchar. Tolerando um pouquinho de inflação, pode colocar em risco seu governo.
Justamente por isso o chefe do Gabinete Civil, Antonio Palocci — que foi o conselheiro de Lula que o convenceu de que controlar a inflação e alcançar o equilíbrio das contas públicas deveriam ser objetivos centrais nos primeiros momentos de governo —, está em disputa com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que é o pai da tese de que o PIB potencial brasileiro é de 5% ao ano, e quer provar isso a todo custo.
As entrevistas e declarações da presidente Dilma sobre esses temas não coincidem entre si, e também estão desalinhadas em relação a outros setores do governo.
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