Ex-presidente do BRB negociou empréstimo irregular para construtora
Ana Maria Campos
Publicação: 25/03/2011 07:00 Atualização: 25/03/2011 10:14
Um diálogo captado durante as investigações da Operação Aquarela, realizada pelo Ministério Público do Distrito Federal em 2007, mostra que o então presidente do Banco de Brasília (BRB), Tarcísio Franklim de Moura, se envolveu diretamente na concessão e repactuação do empréstimo no valor de R$ 6,7 milhões para que a empresa WRJ Engenharia de Solos e Materiais Ltda. pudesse construir o Residencial Monet, empreendimento imobiliário localizado em Águas Claras. Mais do que isso, a escuta telefônica, autorizada pela Justiça, indica que Tarcísio Franklim cobrou propina para autorizar as operações financeiras. “Vai ter alguma coisa? É, porque... a gente tá fazendo uma coisa...”, questiona o então presidente do BRB ao ser informado por Antonio Cardoso de Oliveira, então gerente de crédito do banco, sobre detalhes da transação que beneficiaria a construtora. O funcionário respondeu, supostamente tentando disfarçar o crime: “Honorários advocatícios serão negociados diretamente com o advogado”.
Na última quarta-feira, o Correio revelou com exclusividade que Joaquim Roriz (PSC), as três filhas — Wesliane Roriz, a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), e a distrital Liliane Roriz (PRTB) —, além de um neto dele, Rodrigo Domingos Roriz Abreu, são acusados de receber da empresa WRJ, como propina, 12 apartamentos no prédio pela facilitação do empréstimo que viabilizou a construção do empreendimento. Em ação de improbidade administrativa proposta na última terça-feira na 3ª Vara de Fazenda Pública do DF, os promotores do Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (Ncoc) do Ministério Público do DF sustentam que Roriz usou da influência política e da amizade com Tarcísio Franklim para intermediar a operação fraudulenta que resultou em prejuízos ao BRB, uma vez que o financiamento nunca foi quitado. Ele também é réu na ação.
A relação próxima e nebulosa entre Roriz e o ex-presidente do BRB veio à tona durante a Operação Aquarela. Um diálogo entre osenador do DF pelo PMDB, à época, e Tarcísio Franklim provocou o escândalo que ficou conhecido como a Bezerra de Ouro. A conversa interceptada pela Polícia Civil do DF mostrou uma negociação sobre a partilha de um cheque, no valor de R$ 2,2 milhões, do empresário Nenê Constantino na tesouraria do BRB.
Esse episódio resultou numa outra ação de improbidade administrativa contra Roriz, Constantino e Tarcísio Franklim, protocolada pelos promotores do Ncoc em abril do ano passado. A estrutura do banco foi usada para saque de um cheque milionário do Banco do Brasil. Nesse caso, o ex-governador sempre sustentou que a operação envolveu um negócio particular, um empréstimo de Nenê Constantino para a compra do embrião de uma bezerra. O MP não confia nessa versão.
Os donos da construtora WRJ, os irmãos Renato e Roberto Cortopassi, também são réus na ação relacionada ao Residencial Monet. Durante os desdobramentos da Operação Caixa de Pandora, a Polícia Federal e o MP realizaram busca e apreensão na sede da empresa. Nos computadores, foram encontrados supostos contratos de gaveta que tratam da compra e venda dos 12 apartamentos no Monet para familiares de Roriz.
O porta-voz da família Roriz, Paulo Fona, afirma que a negociação nunca ocorreu. Eles teriam chegado a pensar em comprar os imóveis, mas nada teria sido concretizado. De acordo com o MP, os apartamentos foram vendidos em contratos de gaveta, sem escritura, em nome da família Roriz. Dados contábeis apreendidos da WRJ indicam que a empresa simulou a venda dos imóveis para a COSS Construções, que também pertencia aos Cortopassi, para justificar o negócio. Liliane afirma que nunca tomou conhecimento de qualquer transação envolvendo o prédio. Hoje, os apartamentos estão em nome do BRB. O banco executou a WRJ porque o empréstimo não foi quitado.
Lavagem de dinheiro
Em junho de 2007, a Polícia Civil do DF, numa ação conjunta com o Ministério Público do DF, prendeu 19 pessoas, entre as quais o ex-presidente do BRB Tarcísio Franklim de Moura e o então coordenador da Associação Nacional dos Bancos (Asbace), Juarez Cançado. Foi uma investigação sobre lavagem de dinheiro desviado de contratos do BRB.
Confira áudio com os diálogos que confirmam o envolvimento de Tarcísio Franklim no caso
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