Dilma adapta planos para os chefes de ministérios à realidade da aliança
Denise Rothenburg
Publicação: 25/12/2010 08:10 Atualização: 25/12/2010 01:09
“Nem tudo saiu como planejei, mas vamos fazer acontecer.” Assim Dilma Rousseff fez referência ao próprio ministério numa conversa com um amigo. Os últimos 20 dias, em que a presidente eleita se dedicou quase que integralmente à formação da equipe, foram marcados por uma série de percalços e mudanças de planos. Hoje, dizem os próprios petistas, não há dúvidas de que quem deu mais trabalho foi o próprio PT, tanto no que se refere à guerrilha entre as tendências por espaço no governo quanto à distribuição estadual dos cargos. O enrosco foi maior do que apaziguar PMDB e PSB.
Em algumas ocasiões durante a formulação do primeiro escalão, Dilma Rousseff pediu conselhos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Para Minas Gerais, por exemplo, o plano original continha três pastas. O Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio para o ex-prefeito Fernando Pimentel, e, além disso, dar aos dois grandes grupos do PT no estado a oportunidade de indicar um ministro cada um. Para o grupo de Patrus Ananias, Dilma reservou o ministério da Cultura. O nome escolhido para ocupar o cargo foi o da professora Heloísa Starling. Bastou sair no jornal para que o deputado Odair Cunha (PT-MG), ligado a Patrus, reagisse de forma incisiva, dizendo que Heloísa não representava a bancada.
O desentendimento fez cair a outra vaga que estava reservada para Minas Gerais, a Controladoria-Geral da União. Dilma queria levar para lá o procurador de Belo Horizonte, Marco Antônio Rezende, ligado a Pimentel. Assim, a Cultura acabou nas mãos da cantora Ana de Hollanda, Jorge Hage permaneceu na CGU e a bancada petista mineira ficou a ver navios.
Atropelo
O que serve de consolo ao PT de Minas é o caso do Rio de Janeiro. O secretário de Saúde, Sérgio Côrtes, esteve com Dilma e o governador do Rio, Sérgio Cabral. Os dois saíram da Granja do Torto confiantes de que Côrtes seria ministro. Faltou, porém, respeitar um detalhe: “Acerte com o Michel Temer para que a indicação seja feita pelo partido”, comentou a presidente eleita. Cabral saiu da Granja em direção ao aeroporto. Enquanto ele voava, Dilma falou com Temer sobre os planos para Côrtes.
Temer ficou no aguardo para fazer a indicação via PMDB.
Cabral, contudo, chegou ao Rio anunciando Côrtes como ministro. O PMDB, que não tinha resolvido a sua vida, não gostou de ver um governador do partido, sozinho, indicar o titular da Saúde enquanto as bancadas na Câmara e no Senado e o vice-presidente eleito não tinham ainda seus postos. Assim, Côrtes, anunciado por Cabral sem o aval do PMDB, não durou 24 horas e inviabilizou outro nome do PMDB para a vaga porque soaria como desprestígio a Cabral.
Com os peemedebistas fora da Saúde, o PT viu a brecha para voltar ao cargo que perdera em 2005, quando Humberto Costa (PT-PE) deixou o cargo. Enquanto Dilma procurava um médico de renome, o partido passou a trabalhar o nome de Alexandre Padilha, médico e com a vantagem de um bom relacionamento político com parlamentares e prefeitos. E Dilma gosta dele.
Padilha só demorou a ser convidado porque Dilma tinha dúvidas sobre tirá-lo da coordenação política. Desde o início, ela havia dividido o governo em três grupos: os ministros da Casa e os da área econômica, do PT; Depois, os grandes ministérios da área social, para onde queria quadros técnicos. Por último, os braços executores das políticas de infraestrutura, entregues aos aliados. A exceção era Comunicações, onde Dilma quis deixar o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Negativas
Na área social, os planos de Dilma em busca de técnicos ficaram prejudicados. Grandes empresários, como Jorge Gerdau, preferiram ficar fora do primeiro escalão. Assim como grandes médicos. O nome mais expressivo que se insinuou para a Saúde foi o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), outro “quase ministro”. Dilma, entretanto, foi franca com Cid Gomes (irmão de Ciro) ao dizer que tinha outros planos para a Saúde. Ofereceu ao PSB a Integração Nacional e Portos, que poderia ser acrescida de aeroportos se Ciro fosse o nome. “Só vou para a Integração se você precisar muito. Não tenho essa fome por cargo. E se me quisessem de verdade, teriam me oferecido algo que eu não teria como recusar”, disse Ciro a Cid Gomes.
Ciente de que Ciro não queria mesmo a Integração, Cid voou para Pernambuco no domingo para fechar as indicações do PSB. Surgiu a ideia do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) para a Integração. A ideia não vingou porque, preocupado com guerra das tendências do PT, José Eduardo Dutra (suplente de Valadares no Senado) avisara que não poderia largar a Presidência do partido nesse tiroteio. Afinal, soaria a muitos que Dutra resolveu sua parte enquanto as bancadas não estavam contempladas. Para Dutra, a prioridade é trabalhar para que o petista Marco Maia fique com a Presidência da Câmara. No fim, Fernando Bezerra Coelho foi o nome de consenso para a Integração.
Trabalhos de Bezerra
A todos os ministros que Dilma convidou oficialmente, ela discorreu sobre prioridades da área e distribuiu tarefas. Fernando Bezerra Coelho (PSB), da Integração, saiu com um dever de casa extenso. A primeira incumbência foi deixar a Defesa Civil em alerta por causa das chuvas que sempre castigam o país no início do ano. A segunda foi cuidar do cronograma da Transposição do Rio São Francisco e da Ferrovia Transnordestina para que não sofra atrasos.
Os quase ministros
Ciro Gomes
Deputado federal. Queria ser titular da Saúde. Como não lhe foi oferecida, recusou a Integração Nacional, que não considerava um desafio para sua carreira.
Sérgio Côrtes
Secretário de Saúde do Rio de Janeiro. Convidado pela manhã para assumir o ministério da Saúde, terminou desconvidado porque faltou combinar com a cúpula do PMDB, que ainda não havia acertado o espaço no governo.
Heloísa Starling
Professora. Seria ministra da Cultura como indicação de Patrus Ananias. Perdeu a vaga porque o PT mineiro estrilou.
Marco Antônio Rezende
Procurador de Belo Horizonte. Ligado ao grupo de Fernando Pimentel, iria para a Controladoria-Geral da União. Não foi por causa do desacerto no PT mineiro.
Maria Lúcia Falcon
Secretária de Planejamento de Sergipe. Foi sondada, aceitou, mas não emplacou porque a Democracia Socialista bateu o pé para continuar com o ministério do Desenvolvimento Agrário.
Márcio França
Deputado federal. Foi indicado pelo PSB para ser ministro de Portos, mas o cargo acabou sob a tutela dos cearenses.
Beto Albuquerque
Deputado federal. Era o segundo nome indicado para Portos dentro do PSB, caso Dilma não quisesse mais um paulista na equipe.
Luciana Santos
Ex-prefeita de Olinda. Chegou a ter o nome “vazado” pela equipe de transição como futura ministra do Esporte. Não ficou com o cargo porque a Autoridade Olímpica (APO) não terá status de ministro e sofre bombardeio do prefeito do Rio de Janeiro. Assim, o Esporte ficou com o atual ministro, Orlando Silva, o qual o próprio PCdoB tinha pedido para manter.
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