Agnelo impõe derrota a Roriz e conquista o DF
Petista recebe dois terços dos votos dos brasilienses, supera Weslian com folga e vai governar o Distrito Federal pelos próximos quatro anos. PT, dessa vez aliado ao PMDB, voltará ao poder 12 anos depois. Governador eleito fala em unir Brasília, deixando de fora o rorizismo
Pela primeira vez na história, o PT derrotou Joaquim Roriz. Agnelo Queiroz (PT) elegeu-se o novo governador do Distrito Federal, com uma vitória arrasadora. O petista conquistou 875.612 eleitores e levou o Palácio do Buriti com a maior votação proporcional registrada na capital do país. De cada três eleitores que participaram do pleito, dois votaram no médico, ex-ministro do Esporte, três vezes deputado federal, além de um mandato de distrital. Weslian Roriz (PSC) sai da disputa com 449.110 votos, o correspondente a 33,90%, um terço do eleitorado. Escolhida candidata a nove dias do primeiro turno, a ex-primeira-dama, em quatro semanas de campanha na segunda rodada, só conseguiu agregar 8.982 apoiadores a mais do que já contava em 3 de outubro.
No segundo turno, Agnelo conseguiu uma arrancada. Ampliou seu eleitorado em 199.218 votos. A conquista coincide com o montante obtido por Toninho do PSol, que conquistou 199.095 eleitores e declarou voto nulo na segunda rodada eleitoral. Em 1994, um petista, Cristovam Buarque, também venceu a disputa. Mas a diferença para o candidato rorizista, Valmir Campelo (PTB), ocorrida também no segundo turno, foi mais apertada. Dividiu a população. Nesse caso, o concorrente, embora pertencesse ao grupo rorizista, não teve o empenho do ex-governador. Ele deixou a campanha magoado pelo abandono. O mesmo ocorreu com a então governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB) em 2006, quando concorreu à reeleição, mas encerrou o processo sem a certeza de que Roriz tenha mesmo mergulhado em seu projeto. “É o fim da era Roriz. (A Lei da) Ficha Limpa veio e definiu o fim da era Roriz”, avaliou Cristovam, que perdeu a eleição para o ex-governador em 1998.
Derrotada ontem, Weslian Roriz representava diretamente a figura do marido, inclusive, na urna eletrônica. Casada com o ex-governador há 50 anos, ela significa a mais pura expressão do rorizismo. Entrou no páreo apenas pela impossibilidade da candidatura do marido, barrado pela Justiça em decorrência da Lei da Ficha Limpa. A votação de Weslian foi menor do que o montante de votos de quem não participou da escolha do novo governador. Somados os votos nulos (7,38%), brancos (3,11%) e a abstenção (19,31%), 509.413 eleitores não opinaram sobre a sucessão. Esse número corresponde a 30% do eleitorado.
O receio da Coligação Um novo caminho, liderada por Agnelo, de que uma alta abstenção alteraria o desempenho do petista registrado pelas pesquisas de opinião, não se concretizou. No primeiro turno, 283.177 pessoas deixaram de ir às urnas. Neste domingo, em meio a um longo feriado que só termina quarta-feira, foram 354.146 — 70,9 mil pessoas a mais. No Distrito Federal, os institutos de pesquisa apresentaram números nos últimos dias de campanha confirmados no resultado final.
Agnelo Queiroz assume o Governo do Distrito Federal em 1º de janeiro de 2011 tendo como vice Tadeu Filippelli (PMDB). Vai administrar um orçamento de R$ 25 bilhões com uma frente de 12 partidos: PT, PRB, PDT, PTB, PMDB, PPS, PHS, PTC, PSB, PRP, PCdoB e PSL. Já na largada, conta com base de apoio na Câmara Legislativa de 15 dos 24 deputados distritais. Não terá dificuldades para ampliar essa bancada. Entre os nove demais parlamentares eleitos, pelo menos dois, Eliana Pedrosa (DEM) e Benedito Domingos (PP), já sinalizaram que estão dispostos a conversar.
Adversários
A oposição será conduzida pelo rorizismo. Em nota divulgada ontem, Weslian anunciou que vai fiscalizar com lupa a gestão de Agnelo. “Desde já aviso ao governador eleito que nosso grupo político — comandado por Joaquim Roriz — irá fazer uma implacável oposição”, preveniu. Orientada pelo marido, que não se conforma com a derrota ainda mais dolorosa pela participação de um dos seus, a ex-primeira-dama deu uma espetada em Filippelli. “Concorri por amor ao Distrito Federal porque não podia aceitar a vitória de quem só pensa em ardis, que se alia a traidores e oportunistas de última hora”, afirmou na nota, referindo-se à parceria entre peemedebistas e o PT.
Em entrevista ao Correio, o petista disse ontem que não tem mágoas dos eleitores de Roriz, mas não aceita os seus discípulos. “Vou fazer de tudo para unir a cidade, promover a autoestima dos moradores e tirar o Distrito Federal das páginas policiais. Só não vai colaborar quem tiver a visão que representa o rorizismo”, avisou (leia entrevista na página 29). Após a divulgação do resultado eleitoral, Agnelo recebeu uma ligação do governador Rogério Rosso (PMDB). Ele prometeu ao sucessor que daqui para a frente não tomará decisões estratégicas sem antes consultá-lo, principalmente nas questões orçamentárias. A eleição de Dilma Rousseff (PT) para a Presidência amplificou a festa vermelha no DF. Na Esplanada dos Ministérios, sete mil pessoas foram saudar os eleitos. Após a comemoração com a militância, Agnelo foi ao Palácio da Alvorada cumprimentar o presidente Lula.
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