sábado, 20 de novembro de 2010

Saúde: um desafio para o próximo governo


Filas em hospitais, falta de materiais, ausência de medicamentos e déficit de profissionais são os principais motivos para os constantes problemas enfrentados pela população. Um novo modelo de gestão democrática e participativa e a contratação de mais profissionais da área seriam uma das soluções segundo especialistas na área

Tamanho da Fonte Luis Ricardo Machado

lteixeira@jornalcoletivo.com.br Redação Jornal da Comunidade



Nos principais hospitais do Distrito Federal é cena comum ambulâncias de outros estados estacionadas

A situação da saúde nos grandes centros urbanos do Brasil tem sido um dos maiores desafios dos gestores públicos e no Distrito Federal a conjuntura não é diferente. Os maiores vilões do setor na esfera pública giram em torno do número de filas nos hospitais; falta de materiais e instrumentos médicos; aumento do número de ações judiciais contra o sistema de saúde, muitas vezes fruto de reclamações feitas pelos próprios usuários; ausência de medicamentos essenciais à rede, e o número insuficiente de profissionais. Associados a todos estes problemas, a capital federal ainda sofre com o inchaço provocado pela demanda de pacientes que vêm de diversos estados, o que provoca um colapso no atendimento dos maiores hospitais de Brasília.





Um dos que mais sofre é o Hospital de Base de Brasília (HBB). Referência em oncologia, medicina nuclear, transplantes, tratamento de epilepsia e de esclerose múltipla, o centro médico faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS) e é o segundo maior hospital em número de leitos da região Centro-Oeste do país. Todos estes fatores fazem com que pacientes de quase todas as regiões do Brasil procurem o HBB, ponto que coloca em evidência a frágil situação da saúde no DF, evidenciada com a ausência de leitos, do número de médicos insuficiente e a impossibilidade de atendimento imediato nos casos mais graves.





“Se você prestar atenção no estacionamento do Hospital de Base vai perceber a enormidade de ambulâncias das mais diferentes regiões do país. Se para a população que mora aqui já é difícil conseguir atendimento, imagina com este tanto de paciente que vem de fora”, explica o mecânico Felipe de Sousa Santos, que aguardou quatro dias uma vaga na oncologia.





É justamente o aumento da demanda nos hospitais das regiões administrativas um dos principais entraves encontrados pela Secretaria de Saúde para sanar os problemas e encontrar as soluções necessárias. Segundo o subsecretário de Atenção à Saúde, José Carlos Quinaglia, a capital federal conta hoje com mais de 2,6 milhões de habitantes, e aproximadamente 2,4 milhões de moradores do Entorno buscam atendimento em Brasília. “Os moradores desta região usam o sistema de saúde do DF sem nenhum tipo de contribuição, ou seja, o Ministério da Saúde não repassa recursos fora do teto com esta finalidade. Com isto a Secretaria de Saúde é obrigada a atender todos os pacientes, inclusive com leitos, UTI’s e exames”, explica o subsecretário complementando que fazem parte do entorno três municípios de Minas Gerais e 24 do estado de Goiás.





Localizado no eixo-sul, região com a maior demanda e transbordamento de pacientes do Entorno, Santa Maria e Gama enfrentam os maiores congestionamentos de pacientes vindos desta região. “O Hospital Regional de Santa Maria oferece mais de 360 leitos, 70 de UTI, abriga 350 médicos e quase mil e setecentos profissionais de saúde. Os níveis de satisfação dos pacientes é de 75% e, efetivamente, seu funcionamento aliviou o Hospital do Gama e o Hospital de Base”, comenta Ricardo Pinheiro Penna, ex-secretário de Planejamento e Gestão do GDF.





Além do inchaço provocado pela grande demanda vinda das cidades que circunvizinham a capital federal, o grande calcanhar de Aquiles da Secretaria, segundo Quinaglia, é a atenção básica. “Enquanto não tivermos uma atenção básica forte os hospitais vão ficar cheios. Este sistema vai fazer o tratamento emergencial, o que vai descongestionar os hospitais e com certeza seria o elo entre os centros médicos e a própria atenção básica. Outra saída são as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Temos hoje oito UPAs autorizadas pelo Ministério da Saúde e se tivéssemos 18 funcionando, teríamos o modelo de saúde ideal em Brasília” ressalta o subsecretário de atenção à saúde.









Saídas possíveis para a questão




Para Maria Fátima de Sousa, professora da Universidade de Brasília e coordenadora do Núcleo de Estudos de Saúde Pública da UnB, o Distrito Federal tem quatro grandes problemas. O primeiro, segundo a especialista, é a ausência de um modelo de atenção à saúde desde a implantação do SUS, fato que leva os gestores a investir na doença e não na prevenção.






“Depois podemos elencar a má gestão ou mesmo a falta dela nos hospitais públicos. Aqui não se tem o perfil de cada hospital regional e quais as especialidades que cada um domina. Isto poderia ajudar no descongestionamento de vários centros”, explica a professora.





A falta de transparência dos recursos é outro ponto apontado por Maria Fátima. “É preciso que a nova gestão averigue de quanto são os recursos repassados pelo governo federal ao governo distrital, e a partir daí veja onde será investido. Outro ponto negativo é a ausência de um conselho distrital, regionais e de saúde funcionando, de forma que possa ajudar a sanar os problemas da saúde. Este conselho ajudaria dizendo para onde os medicamentos deveriam ir, quais as estratégias deveriam ser tomadas e outras questões que com certeza trariam auxílio para a população”, finaliza.



Pacote de medidas




Secretária de Saúde, Fabíola Nunes: defasagem de servidoresNa última semana o governador Rogério Rosso anunciou um pacote de medidas que incluem a autorização imediata de abertura de concurso e a utilização do banco reserva de pessoal da rede pública de saúde para aumentar o quadro de servidores do Hospital Regional da Asa Sul (HRAS).

O núcleo de saúde foi alvo de várias críticas após o problema que acarretou na morte de onze recém-nascidos na UTI neonatal, fato registrado no início de outubro. A secretária de Saúde, Fabíola Nunes, complementa que devido ao aumento da demanda, o hospital precisa de um estoque maior de material, assim como um acréscimo no número de servidores para suportar a demanda de pacientes. “Um levantamento inicial mostra a defasagem de 42 funcionários, entre médicos e enfermeiros, que serão brevemente convocados”, adiantou a secretária de estado.





Outras melhorias prometidas pelo governo são a criação do Programa de Descentralização Progressiva de Ações de Saúde (Pdpas), o aumento da autonomia dentro das próprias regionais, a convocação de mais de 2 mil servidores concursados e a inibição de compras emergenciais. Os pontos, de acordo com o próprio governador, são fatores essenciais para melhorar o sistema.

Uma das razões para o déficit de profissionais na rede é o fato de cerca de 50% dos profissionais que passam em concurso público não assumem, muitas vezes desestimulados pelo fato de a rede estar sobrecarregada, de conviver com um trabalho estressante e principalmente pelo salário não ser o ideal. Dados obtidos com especialistas da área revelam ainda que mais de cinco mil profissionais de saúde atuam em situações adversas.





Além das medidas anunciadas pelo GDF o desenho de um modelo de gestão democrática e participativa traria melhorias. A amostra propõe que os gerentes das unidades de saúde sejam escolhidos pelos colegas de forma interna em todos os serviços de saúde (hospitais, unidades básicas, especialidades). “Este modelo também traria a possibilidade de realizar conferências locoregionais e distrital como estratégia de identificação das principais demandas encontradas nas regiões administrativas. Com isto formula-se a elaboração de planos diretores regionais com metas e compromissos claros de co-gestão compartilhada”, explica José Carlos Quinaglia.





O próximo governo terá um orçamento de R$ 3,5 bilhões para administrar e problemas estruturais de toda ordem para resolver. Um dos maiores é a intervenção no Hospital de Santa Maria, justamente o centro hospitalar responsável pelo alívio nos hospitais que fazem fronteira com as regiões do Entorno.

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