Luísa Medeiros
Publicação: 22/05/2011 07:10 Atualização: 22/05/2011 07:49
A pouco mais de um mês do recesso parlamentar da Câmara Legislativa, o governo não tem do que reclamar. Conseguiu aprovar 18 projetos no plenário, enquanto os deputados nem sequer emplacaram uma proposta de autoria de cada um até agora. O placar favorável ao Executivo não significa, no entanto, que a relação entre os poderes vai bem. Ao contrário, a base aliada escancara cada vez mais a sua insatisfação com o GDF. O resultado da eleição do comando da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Pró-DF, que ficou sob a tutela da oposição, expôs o atual desgaste político. Nos bastidores, grande parte dos governistas reavalia a aliança feita para alçar Agnelo Queiroz (PT) ao Palácio do Buriti.
Nos últimos dias, a tribuna da Casa virou instrumento para exorcizar o clima de descontentamento dos parlamentares. O tempo reservado para discussões e pronunciamentos foi utilizado para ecoar reclamações contra o governo e para colocá-lo na parede: os distritais querem saber, mais claramente, quem é considerado da base aliada e quem não é. Passados cinco meses da nova gestão, a pergunta cuja resposta deveria ser imediata ainda não foi respondida.
O plenário da Câmara Legislativa é utilizado constantemente pelos descontentes, que reclamam da falta de abertura por parte do Executivo
Em plenário, o relator da CPI do Pró-DF, Aylton Gomes (PR), criticou a postura de colegas que não o apoiaram para assumir o posto. “Será que para ser base tem que ser do PT?”, indagou. O distrital Wellington Luiz (PSC) foi solidário a ele. “Quero saber se sou da base. A resposta tem que ser dada pelo governo. Nós que não somos do PT não estamos tendo o tratamento devido. Estou extremamente insatisfeito”, afirmou. O vice-presidente da Câmara, Dr. Michel (PSL), completou o raciocínio. “Temos que decidir de uma vez por todas quem é (da base) e quem deixa de ser”, concluiu.
Agnelo Queiroz começou o mandato com um grupo oficial formado por 15 dos 24 representantes eleitos. Para aprovar projetos de interesse do Executivo, conseguiu apoio até de oposicionistas. Hoje, interlocutores do PT trabalham com um número menor de apoiadores — 13 — e sabem que para agregar mais deputados terão que mudar de estratégia. O coordenador de Assuntos Legislativos do GDF, Wilmar Lacerda, admitiu que as relações com alguns distritais estão estremecidas, mas assegurou que as demandas dos aliados serão atendidas, no que for possível. “O governo está atento a isso e tomará providências. Cuidaremos melhor dessa relação”, afirmou.
A articulação precisa ser ágil. A relatoria da CPI da Saúde, a próxima a ser instaurada na Casa, corre o risco de cair na mão da oposicionista Celina Leão (PMN), caso a cúpula do PT não interfira, a exemplo do que ocorreu com a Presidência da CPI do Pró-DF, que está sob o comando da democrata Eliana Pedrosa. O petista Chico Leite, que pleiteava o posto, reclamou da falta de esforços dos colegas para ajudá-lo. O líder de governo, Wasny de Roure (PT), reconheceu a inoperância política do grupo. Nos bastidores, um petista afirmou que se o governo tivesse mais interesse sobre o assunto, o secretário de Governo, Paulo Tadeu (PT), estaria presente nas negociações.
Comparações
Em conversas isoladas, governistas comparam os espaços políticos herdados, para cada aliado, na estrutura administrativa do GDF. Na maioria das vezes, a partilha é considerada injusta. “Uma oposicionista disse que neste governo é melhor ser amante do que ser a mulher, que recebe poucos agrados e ainda tem que aguentar cara feia. E o pior é que concordei com ela”, contou um distrital da base, que pediu para não se identificar. Segundo ele, virou praxe a resposta “isso não é prioridade para o governo”, dada por alguns secretários do Executivo. “Só levo pancadaria da minha base eleitoral. Não consigo atender porque não sou atendido”, disse.
São poucos os governistas que não têm do que reclamar. Aparentemente, o deputado Israel Batista (PDT) é um deles. “Os espaços ocupados pelo meu partido foram repartidos com outros que também apoiaram o governo Agnelo. Nas vagas, nomeamos nove ex-candidatos. O pleito foi relativamente atendido, não se pode ter tudo”, ponderou.
O presidente da Comissão de Economia, Orçamento e Finanças (Ceof), Agaciel Maia (PTC), ameniza o desgaste entre os poderes, apesar de apontar o motivo pelo qual governo e base aliada estão hoje fora da sintonia. “O GDF começou praticamente unânime na Câmara. Mas quando não coloca prioridade no relacionamento com o deputado, a situação muda”, analisou.
O vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB) está ganhando espaço entre os descontentes. O distrital Olair Francisco (PTdoB) recusou o convite para compor o bloco PT-PRB em troca de uma vaga no grupo partidário onde está localizado o PMDB. Outro que flerta com o acolhimento peemedebista é Cristiano Araújo (PTB). Caso isso se concretize, o bloco será o mais populoso da Câmara Legislativa, com um total de sete parlamentares, um a mais do que o grupo petista. Com maneira mais personalizada de atuar, Filippelli está se fazendo presente. Há governistas com livre acesso à casa dele. “Ele está aproveitando para ganhar espaço entre os deputados e muitos estão gostando”, disse um distrital da base.
Legendas
Quinze distritais foram eleitos pelas legendas aliadas a Agnelo Queiroz, mas no primeiro dia da nova legislatura, boa parte deles se rebelou na busca por mais poder na Câmara. O chamado Grupo dos 14 deixou de fora apenas o bloco formado pelos cinco deputados do PT e por Evandro Garla (PRB), e outro, composto pelas siglas mais próximas dos petistas — PSB, PPS e PDT. A manobra, que criou impasse na eleição da Mesa Diretora da Casa, não foi apenas pontual e pode ser repetida a qualquer momento, apostam alguns deputados.
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