Banco de Brasília desenvolve projeto de educação financeira, com o intuito de ensinar crianças e adolescentes a controlar os gastos. A proposta se aplica também a servidores, universitários e profissionais do setor privado
Mariana Branco
Pavla Cunha (C) admite que não consegue conter o impulso de consumir, mas reconhece que precisa se reeducar e guardar parte da mesada
Apesar de muito jovem, Pavla Cunha Di Tanno, 13 anos, enfrenta um problema de gente grande. A estudante não consegue controlar o impulso de comprar roupas, sapatos e bolsas de marca. Jamais deixa sobrar nada da mesada, que ela reconhece ser substancial para uma garota de sua idade. Catarina Lopes Leite, 12, que estuda com Pavla, é mais previdente. Dona de um orçamento mensal modesto, acumulou um pequeno capital de R$ 100, que não decidiu ainda como vai gastar.
Ontem, Pavla, Catarina, e outros alunos de uma escola particular na Asa Sul puderam compartilhar suas experiências com o dinheiro e tirar dúvidas. Como administrar a mesada, a importância de planejar e poupar para comprar o sonhado jogo eletrônico ou viajar com os amigos, e os perigos de uma vida financeira desorganizada foram os assuntos abordados em uma exposição feita pelo Banco de Brasília (BRB). A palestra foi uma das ações do projeto Educação financeira, lançado pela instituição em fevereiro deste ano e que, além de crianças e adolescentes, tem como alvo servidores públicos, universitários e profissionais do setor privado.
As dicas sobre economia, dadas por Adriana de Jesus Mota, palestrante de finanças pessoais e gerente do BRB, impactaram a jovem plateia. “Eu queria tentar diminuir minha compulsividade. Se eu não mudar agora, vai ficar pior quando eu for adulta, e eu vou passar para os meus filhos”, afirmou Pavla Di Tanno, após o fim da apresentação. “O objetivo não é que você não gaste. É escolher as coisas que você quer, fazer uma reserva financeira. Se você aprender, quando for grande essa organização vai ser parte da sua vida”, foi a resposta de Adriana para ela.
Ferramentas
Além das crianças, 800 servidores públicos do Governo do Distrito Federal (GDF) já participaram de eventos semelhantes organizados pelo BRB este ano. No segundo semestre, o banco pretende visitar as escolas públicas. Na quinta-feira, lançou uma cartilha com dicas, que será distribuída em sindicatos, órgãos públicos e colégios. O material está disponível na internet, no endereço www.brb.com.br.
“Nas próximas semanas, vamos oferecer também em nosso site uma ferramenta eletrônica para ajudar no gerenciamento das finanças. Lançaremos ainda um jogo interativo em CD para adolescentes e crianças”, anunciou o presidente do BRB, Edmilson Gama da Silva. Segundo ele, o investimento inicial nas ações é de R$ 100 mil, em parceria com a Visa.
A ideia de que administrar as finanças pessoais é uma competência importante nos dias atuais, e de que o aprendizado deve começar cedo, está cada vez mais difundida. São muitos os projetos de lei que preveem a obrigatoriedade do tema nas escolas. No Distrito Federal, ano passado, a Secretaria de Educação começou ensinar o conteúdo no ensino médio, como piloto, diluído em outras disciplinas. De acordo com o órgão, o projeto continua ativo. Instituições de ensino particulares contratam consultorias e especialistas para passar a mensagem do consumo consciente aos alunos.
Álvaro Modernell, sócio da empresa Mais Ativos Educação Financeira, desenvolve projetos nas escolas particulares no DF. Para ele, a orientação aos pequenos ajudará a prevenir problemas como o do superendividamento. “As pessoas estão devendo valores bastante acima da capacidade de pagar. Com a ameaça da inflação e o aumento dos juros, o ideal seria frear o consumo baseado no crédito”, defende.
Estudo
Na quinta-feira última, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), responsável pela pesquisa do Índice de Expectativas das Famílias (IEF), divulgou que a proporção de famílias que dizem não ter condições de pagar suas dívidas aumentou de 32,2% em janeiro para 38,6% em abril. A quantidade de lares cujos moradores alegaram ter capacidade de pagar plenamente sua dívida recuou, de 19,2% no primeiro mês do ano, para 16,8% no mês passado.
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