domingo, 1 de agosto de 2010

Revista Istoé de 31 de julho de 2010

Todos querem ser Lula


Não importa o partido, pouco importa o credo, hoje no Brasil quase todos candidatos prometem ser uma extensão de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo as pesquisas, o presidente é capaz de influenciar quase dois terços do eleitorado brasileiro

Sérgio Pardellas







CLONES

Candidatos de todos os partidos acreditam que o melhor atalho para chegar ao poder é copiar Lula







Próximo de deixar o poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exerce um papel, nessas eleições, que nenhum de seus antecessores imaginou cumprir, mesmo os mais populares, como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Em fim de governo, ele não é diretamente atacado por ninguém e, apesar de não ser candidato a nada, transformou-se no personagem central da disputa. Segundo a última pesquisa Datafolha, Lula exerce influência sobre quase dois terços do eleitorado – 42% dizem que votarão “com certeza” no candidato apoiado pelo presidente e 23% afirmam que “talvez” o façam. Por isso, na eleição presidencial, Lula é o principal cabo eleitoral. Herdeira de parte da popularidade do presidente, Dilma Rousseff já combina os eventos de campanha com a agenda do Planalto. Nas disputas estaduais, os candidatos também se esforçam para colar sua imagem à de Lula, independentemente dos partidos políticos aos quais são filiados. Além de implorar pela mensagem de apoio no rádio e tevê, fazem questão da companhia do presidente em seus santinhos. Adversários tentam aderir de alguma maneira. Oposicionistas fazem questão de posar ao lado de Lula no material de campanha. “Apoio Lula desde 2006”, justifica o candidato ao governo do Piauí, João Vicente Claudino (PTB), que faz oposição ao PT no Estado.



De olho nos votos que podem receber em outubro, outros candidatos nas disputas regionais tentam se confundir com o presidente ao registrar o nome “Lula” no TSE, e até moldam as feições do rosto para, propositalmente, ficarem parecidos com ele. É o caso do ex-coveiro Luiz da Silva, candidato a deputado federal por São Paulo. Além de ter batizado o nome “Lula” na urna eletrônica, Luiz ficou parecido fisicamente com o presidente da República ao deixar a barba crescer. A semelhança foi atestada pelo próprio presidente. “Quando nos encontramos, recentemente, Lula disse que nunca tinha visto alguém tão parecido com ele”, afirma Luiz da Silva. O candidato conta com apenas dez segundos no horário eleitoral gratuito na televisão, mas aposta no fato de ser homônimo e na semelhança com Lula para conquistar uma cadeira na Câmara dos Deputados. “Perdi outras duas eleições, mas, na ocasião, Lula nem era presidente ainda”, disse. Há ainda “Lulas” na Bahia e no Pará. Um deles é o paraense Angelo da Silva Pereira, candidato a deputado estadual pela segunda vez. Natural de Lauro de Freitas, o baiano Luis “Lula” Maciel admite que o nome ajuda a ganhar eleição. “Já fui duas vezes vereador. Em 2004 e 2008”, diz ele, que também concorre a uma vaga na Assembleia Legislativa.







Nas eleições estaduais, a disputa pelo uso da imagem de Lula no material de campanha é tão acalorada que foi parar na Justiça. No Piauí, Wilson Martins (PSB) recorreu ao Tribunal Regional Eleitoral para impedir Claudino (PTB) de aparecer ao lado de Lula em cartazes e santinhos. No Ceará, a coligação do atual governador e candidato à reeleição, Cid Gomes (PSB), pretende fazer o mesmo com o candidato do PR, Lúcio Alcântara, cujo candidato ao Senado é Alexandre Pereira, do PPS, partido que faz contundente oposição ao presidente. “Vamos questionar o uso de cartazes em que Lúcio aparece ao lado de Lula”, disse Cid Gomes, por intermédio de sua assessoria. Há outra situação esdrúxula em Fortaleza: tanto José Pimentel (PT) quanto Eunício Oliveira (PMDB) se proclamam “o senador de Lula”. Na Paraíba, a situação é parecida. O PT também não aceita que o candidato ao governo Ricardo Coutinho (PSB) mencione Lula no jingle. Os petistas apoiam José Maranhão (PMDB).



Em Mato Grosso, Mauro Mendes (PSB), aspirante ao governo, sonha com a presença de Lula em seu palanque. O candidato ao Senado, o petista Carlos Abicalil, no entanto, já obteve de José Eduardo Dutra, presidente nacional do PT, o compromisso de que Lula só aparecerá ao lado de seu aliado, o peemedebista Silval Barbosa. O problema, neste caso, é que o próprio Lula tem dito, em conversas reservadas, que não pretende se expor muito nessa primeira fase das eleições. Pelo menos nas disputas regionais. Ele revelou, em recente reunião em Brasília, que só vai entrar em campo quando o cenário estadual estiver mais definido. “O presidente quer entrar para decidir”, disse um ministro próximo de Lula.



A influência de Lula nas eleições pode ser medida pelas recentes pesquisas. Além da do Datafolha, segundo a qual Lula tem hoje 77% de popularidade, um levantamento encomendado pelo PSDB, ao qual ISTOÉ teve acesso, revela que o presidente é visto por parte expressiva da população como o “político ideal”. Isto explica a posição de Serra, que evita ataques frontais ao presidente e elogia com entusiasmo seus programas sociais.



É na onda de popularidade de Lula que Dilma pretende surfar. Os dividendos eleitorais já podem ser contabilizados pela candidata petista. As duas subidas de Dilma nas pesquisas eleitorais, desde o fim do ano passado, coincidem com um aumento no percentual de eleitores informados sobre o fato de que ela é a candidata do presidente. O Datafolha estabelece uma relação direta entre a informação sobre a opção de Lula na campanha e o desempenho de Dilma. Em maio, quando Dilma subiu sete pontos percentuais e empatou com José Serra com 37% das intenções de voto, os índices dos que tinham conhecimento sobre quem Lula apoiava aumentaram de 61% para 71%. Um quinto dos eleitores de Serra ainda afirma que pretende votar “com certeza” na pessoa apoiada por Lula. Ou seja, o PT aposta que ainda há uma boa margem para migração de votos de Serra para Dilma, quando estes supostos desavisados descobrirem a preferência de Lula.







Ao contrário do seu comportamento em relação às eleições estaduais, Lula não esconde de ninguém que fará de tudo para eleger Dilma sua sucessora. Neste e nos próximos dois fins de semana, Lula terá compromissos casados com os de sua candidata à Presidência. A agenda deste fim de semana prevê a ida da dupla ao Rio Grande do Sul e ao Paraná. O itinerário incluiu uma volta à Boca Maldita, movimentado centro curitibano. Na semana que vem o destino será Minas Gerais, Estado em que Dilma tem crescido nos últimos meses. Nos dias 13 e 14 de agosto, Lula e Dilma farão visita a uma porta de fábrica na região do ABC. Com a ida ao berço político do presidente, a petista realizará um desejo alimentado por todos os candidatos: o de ser cada vez mais Lula.

Colaborou Alan Rodrigues

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