Helena Mader
Ricardo Taffner
Tem que ter muita paciência e persistência para conseguir atendimento aqui. Está muito ruim a situação"
Alexandre Carvalho, pintor
A contratação de servidores, a reforma nos hospitais, os mutirões de cirurgia e a compra de novos equipamentos trouxeram algumas melhorias para o combalido sistema público de saúde da capital federal. Mas nos postos de saúde e nos pronto-socorros, problemas crônicos como filas e falta de profissionais persistem. Encontrar um paciente satisfeito com o atendimento prestado nos hospitais da rede pública é missão quase impossível. Algumas medidas que devem surtir efeitos positivos, como a abertura de novas unidades de pronto atendimento, ainda dependem da contratação de pessoal.
O setor da saúde é a área mais delicada do Distrito Federal. Por ser o principal foco de reclamações dos brasilienses, o tema dominou a campanha eleitoral do ano passado e foi o centro das propostas de quase todos os candidatos. Ao assumir o mandato, o governador Agnelo Queiroz determinou a retomada da gestão do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), o único do DF a funcionar sob administração terceirizada. Sob controle da iniciativa privada havia três anos, a unidade esteve envolvida em suspeitas de desvio de recursos públicos.
O governo garante que o número de leitos e de vagas cresceu depois da retomada de gestão. Mas na emergência e no ambulatório da unidade, as queixas são cada vez mais recorrentes. Grávida de quatro meses, a auxiliar de limpeza Maria da Conceição Alves de Jesus, 38 anos, procurou o HRSM na última quarta-feira sentindo fortes dores na coluna. Só conseguiu atendimento depois de mais de oito horas de espera. “As atendentes dizem apenas que não tem médico. Você fica aqui no pronto-socorro sem nenhuma previsão de atendimento”, avalia.
Paciência
A abertura da primeira unidade de pronto atendimento (UPA) do Distrito Federal, em Samambaia, também era uma das apostas para melhorar o serviço de saúde. Construído no governo passado, o prédio teve que ser reformado e passou por adaptações antes de ser inaugurado, há três meses. Mas, para colocar em funcionamento a unidade, foi preciso desativar boa parte dos serviços oferecidos no Hospital Regional de Samambaia. Uma inspeção do Sindicato dos Médicos no Hospital Regional de Taguatinga também constatou que um grande número de clínicos pediatras deixou a unidade para trabalhar na UPA. Ou seja: os profissionais apenas mudaram de local de trabalho e os problemas continuaram.
O pintor Alexandre Carvalho, 26 anos, se queixa do serviço prestado na unidade. “Tem que ter muita paciência e persistência para conseguir atendimento aqui. Está muito ruim a situação”, comentou, depois de mais de seis horas à espera de assistência.
O presidente do Sindicato dos Médicos, Gutemberg Fialho, afirma que há um deficit de pelo menos mil profissionais da área na rede pública. A Secretaria de Saúde do DF já abriu edital para um concurso, que será realizado no próximo dia 11. Serão oferecidas 400 vagas para médicos de diversas especialidades. “Mas não vejo boas perspectivas porque a maioria não tem interesse em trabalhar na rede pública por conta dos salários e das péssimas condições de trabalho. O governo certamente vai ter muita dificuldade para preencher as vagas”, garante o presidente do sindicato. No certame realizado no ano passado, menos de 50% dos médicos aprovados quiseram assumir a vaga na rede pública.
O secretário de Saúde, Rafael Barbosa, reconhece os problemas, mas afirma que até o fim deste ano a população vai começar a sentir os impactos positivos das medidas implantadas. “A saúde está muito longe do que queremos e do que a população merece.” Ele explica que as primeiras medidas desta gestão foram recuperar a infraestrutura física da rede e acabar com o desabastecimento de medicamentos e insumos da rede pública. O secretário de Saúde espera preencher todas as vagas de médicos. “Tivemos mais de 3 mil inscritos no concurso. Para os cargos de enfermeiro, foram mais de 25 mil candidatos”, comenta. Sobre as reclamações relativas ao atendimento no Hospital Regional de Santa Maria, Rafael garantiu que eventuais problemas estão relacionados à dificuldade para manter a unidade de portas abertas depois do fim do contrato com a Real Sociedade Espanhola. “Em menos de três meses, tivemos que montar um hospital. Admitimos mais de 2 mil servidores, entre definitivos e temporários, mas infelizmente todos foram para atender a demanda de Santa Maria.”
Mudanças
Na atual gestão, os servidores terceirizados da unidade foram pouco a pouco substituídos por servidores efetivos. Na semana passada, a Secretaria de Saúde deu posse a 400 novos funcionários técnicos e a maioria foi lotada no Hospital de Santa Maria.
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