Voto de confiança dado pela população começa a perder espaço para reclamações sobre a qualidade dos serviços públicos
Helena Mader
Ricardo Taffner
"Até mesmo os pais de alunos adultos têm vindo buscá-los à noite. Terminamos as aulas mais cedo por causa do risco que todos enfrentam ao sair daqui"
Surama Castro, supervisora pedagógica do Centro de Ensino 310 de Santa Maria
Depois da crise política que abalou gravemente a confiança dos brasilienses, a população da capital federal decidiu decretar trégua e deu um voto de confiança aos integrantes da nova gestão. Mas, passados mais de quatro meses do início do governo, essa lua de mel começa a dar sinais de desgaste. Diante de problemas antigos que continuam a castigar os usuários de serviços públicos, as queixas e as insatisfações são cada vez mais constantes. Na saúde, no transporte, na educação ou na segurança, as pessoas reclamam da lentidão das mudanças. Para os brasilienses, é difícil entender por que impostos como o IPTU subiram nos primeiros meses do mandato se os efeitos positivos das intervenções ainda poderão levar alguns anos para serem sentidos.
A saúde ainda é o setor que suscita mais reclamações, mas as reivindicações por melhorias estão distribuídas por todas as áreas do governo. Na educação, o deficit de professores e a falta de infraestrutura nas escolas são alguns dos problemas que mais incomodam pais e alunos. Hoje, há 5.972 docentes temporários em atuação na rede pública, mas faltam ainda cerca de 145 para atender a demanda atual. Outra fonte constante de queixas é a situação física dos colégios. Muitos foram reformados, mas ainda há escolas construídas com material pré-moldado, que não oferecem conforto aos estudantes.
Esse é o caso da Escola Classe 57, no Setor P Sul, de Ceilândia. Construída em 1986 com placas de concreto, ela deveria ter sido desativada três anos depois. Mas, até hoje, 350 alunos têm aulas no local. A estrutura precária incomoda as crianças e os professores.
No mês passado, dois alunos se machucaram no parquinho da unidade. Um deles, de 9 anos, ficou mais de duas horas com o dedo preso em um dos brinquedos por conta do péssimo estado de conservação do local. Nos últimos anos, foram feitos apenas pequenos reparos para resolver os problemas mais urgentes da Escola Classe 57. Mas eles continuam na unidade.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Educação informou que 340 unidades públicas já foram reformadas este ano. Essas ações fazem parte da operação Escola Arrumada. Segundo a pasta, outras 50 tiveram as quadras de esportes cobertas antes do início do ano letivo. “Atualmente, 18 unidades de ensino da rede pública estão sendo reformadas”, diz nota. A pasta promete recuperar a infraestrutura de todas as escolas com problemas até o fim do ano. A assessoria informou ainda que construirá mais colégios para substituir os muito comprometidos.
Sem segurança
A violência é uma das grandes preocupações na rede pública. O Centro de Ensino 310 de Santa Maria sofreu um assalto no mês passado e o episódio deixou um rastro de medo entre os estudantes. Bandidos entraram na escola à noite e levaram boa parte dos equipamentos eletrônicos da unidade, como computadores e aparelhos de tevê. Até mesmo o único filtro de água do colégio foi levado pelos criminosos.
A supervisora pedagógica do Centro de Ensino 310 de Santa Maria, Surama Castro, conta que o episódio traumatizou os alunos. Ela afirma ainda que a violência sempre foi uma ameaça para a escola, que enfrenta problemas com tráfico e roubos nas redondezas.
“Até mesmo os pais de alunos adultos têm vindo buscá-los à noite. Terminamos as aulas mais cedo por causa do risco que todos enfrentam ao sair daqui”, acrescenta a supervisora. Os estudantes e os professores fizeram uma passeata na última terça-feira para cobrar mais segurança. Sobre esse episódio, a Secretaria de Educação informou que tem promovido ações em parceria com o Batalhão Escolar e com a Secretaria de Justiça do DF para evitar casos de violência nas escolas.
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