Uma raposa no galinheiro
Afastado do Senado sob a acusação de fazer mau uso do dinheiro público, Agaciel Maia vai administrar R$ 26 bilhões de dinheiro público, agora na Câmara Distrital de Brasília
Hugo Marques, revista IstoÉ
INOCÊNCIA
Agaciel garante que foi absolvido pelo povo de Brasília
Após 13 anos na direção-geral do Senado, responsável por um orçamento de R$ 2,7 bilhões, Agaciel da Silva Maia foi afastado do cargo em março de 2009, acusado de usar dinheiro público para fins privados. Ele, por exemplo, não declarou uma mansão de R$ 5 milhões, além de estar envolvido no escândalo dos atos secretos. Com oito processos em andamento na Justiça Federal, escapou da lei dos fichas-sujas e conseguiu se eleger deputado distrital pelo PTC em Brasília, com 14 mil votos. Agora volta a ter acesso ao dinheiro público. Na semana passada, Agaciel conquistou a presidência da Comissão de Economia, Orçamento e Finanças da Câmara Legislativa e será o responsável por gerir R$ 26,6 bilhões, dez vezes mais o que ele movimentava no Senado. Paraibano de Brejo da Cruz, ele vai ocupar o novo cargo graças a uma divisão da base do governo do petista Agnelo Queiroz. “Fui absolvido pelo povo de Brasília”, comemorou Agaciel. “Carrego o carimbo de pivô do escândalo do Senado.”
A comissão dirigida por Agaciel é a mais forte da Câmara e tem poder para inviabilizar alguns projetos do governo do DF. Além do aval para liberar verbas do orçamento, ele será encarregado de aprovar empréstimos bancários milionários, analisar o reajuste salarial no serviço público, a principal máquina de fazer votos em Brasília, e ainda sabatinar todos os presidentes de estatais locais. Para turbinar seu poder na Câmara, Agaciel articulou o “Grupo dos 14”, unificando a oposição com os deputados descontentes da base que não foram agraciados com cargos no governo e que usam o mandato como base de barganha. “A dificuldade do governo Agnelo em articular sua base na Câmara permitiu que Agaciel comandasse a comissão”, diz o distrital Cristiano Araújo (PTB), que apoiou a escolha.
Não foi apenas a divisão da base que levou Agaciel a controlar as finanças da capital. Ele fez uma articulação com parlamentares que estavam na fila da guilhotina da Comissão de Ética, como os distritais Benício Tavares (PMDB), Benedito Domingos (PP) e Roney Nemer (PMDB), investigados por envolvimento no escândalo do Mensalão do DEM. Com isso, Agaciel ajudou a blindar a turma de currículo sujo que era alvo da onda moralizadora. Também blindado pelo Grupo dos 14, Agaciel volta a pôr a mão em dinheiro público. E ninguém em Brasília entende mais disso do que Agaciel. Na campanha, não faltaram recursos. Ele foi o campeão de distribuição de material de propaganda, inundando a cidade com placas e cartazes. Apesar dos gastos com a eleição e com advogados que o defendem na Justiça, Agaciel exibe R$ 2,6 milhões em quatro contas bancárias, conforme declaração de bens que entregou ao TSE. Mas a mansão que provocou sua derrocada no Senado continua desaparecida de sua declaração de renda entregue à Justiça Eleitoral.
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