Investigações do Ministério Público Federal mostram que ela forjou resultados de exames psiquiátricos. As provas revelam ainda que até mesmo o advogado teria participado da armação sobre o estado de saúde mental da promotora, presa há uma semana na Polícia Federal
Publicação: 28/04/2011 06:40 Atualização: 28/04/2011 07:08
No vídeo, o psiquiatra indica até a roupa que ela deveria usar na perícia
O teatro que resultou na prisão da promotora de Justiça Deborah Guerner e de seu marido, Jorge Guerner, tem vários atos e um elenco mais extenso do que o conhecido até agora. Segundo investigação do Ministério Público Federal, o casal apresentou 16 laudos médicos falsos para fugir das denúncias de corrupção e justificar a aposentadoria por invalidez. Há casos em que os documentos foram produzidos, assinados e apresentados à Justiça sem qualquer tipo de exame, procedimento básico para fundamentar o diagnóstico de loucura. Conversas entre o casal e o psiquiatra Luís Altenfelder — os três denunciados por fraude processual, falsidade ideológica e formação de quadrilha — apontariam ainda que até mesmo o advogado da promotora, Pedro Paulo Guerra de Medeiros, teria participado da armação sobre o estado de saúde mental dela.
Diálogos gravados e incluídos nos autos do processo contra os Guerner mostram que Deborah, o marido e o médico Altenfelder conversaram sobre a necessidade de buscar amparo “jurídico” com a defesa para o que o Ministério Público entendeu ser uma farsa. A conversa foi sucedida de um encontro, no Aeroporto de Brasília, entre o advogado Pedro Paulo Guerra de Medeiros e o psiquiatra Altenfelder. A reunião está registrada por câmeras do circuito interno do aeroporto e, associada às conversas na residência do casal, configuraria indício da participação do advogado na suposta armação.
Deborah telefona e sai de casa de carro logo após simular desmaio
Vídeos incluídos na denúncia e divulgados pela Rede Globo revelam cenas de Deborah ao lado do marido sendo orientada para enganar a Justiça sobre seu estado mental. Na gravação, o médico Altenfelder sugere que Deborah faça menção ao pai dela: “Com o falecimento do meu pai, que era tudo pra mim, me senti desamparada…”. “Que com o falecimento do seu pai, aí sua vida mudou.” Deborah pergunta se pode falar eufórica e o psiquiatra responde afirmativamente. “Muito excitada, eufórica e com o pavio muito curto”, diz o médico denunciado por fraude processual. O psiquiatra ainda ensina truques para que a suposta doença de sua paciente pareça real indicando que ela deveria se vestir de forma “meio escandalosa, bem cheguei”. Em outras imagens, a promotora demonstra que seguiu a indicação do médico. Ela vai à perícia médica, onde seria avaliada, com roupas totalmente descoordenadas. Nas imagens, há um flagrante da promotora simulando um desmaio quando recebe uma notificação para prestar depoimento no Conselho Nacional do MP.
A desconfiança sobre a intenção do casal Guerner em simular a loucura de Deborah para atenuar as acusações que pesam contra ela começou em junho do ano passado, dia em que integrantes da Polícia Federal e os procuradores regionais da República Ronaldo Albo e Alexandre Espinosa cumpriram mandado de busca e apreensão na residência do casal, no Lago Sul. Na ocasião, uma atitude de Jorge Guerner chamou a atenção dos procuradores. O marido da promotora informou às autoridades presentes sobre a existência de uma arma calibre .38. Pediu insistentemente que eles confiscassem o revólver, sob a alegação de que Deborah andava desequilibrada e que manter a arma em casa poderia ser um risco à vida dela.
Os procuradores confiscaram e mandaram fazer uma perícia no revólver. Descobriram que a arma estava modificada. O dispositivo com a função de disparar as balas do cartucho — chamado cão ou percussor — estava serrado. Ou seja, seria impossível aquela arma fazer algum mal a Deborah. Para o Ministério Público, essa é uma das evidências de que o casal pensou em detalhes para forjar a suposta condição de insanidade da promotora.
O advogado Pedro Paulo Guerra de Medeiros confirmou ter participado de dois encontros com Altenfelder, os quais classificou como “absolutamente naturais”. “É óbvio que me encontrei com ele, pois era o assistente técnico que a minha cliente me indicou e, por isso, eu o indiquei no processo na Justiça. Agora, se ele apresentou laudos falsos, eu não acredito, mas mesmo que tivesse ocorrido, não tenho nada a ver. Deborah é mais uma cliente. Jamais mancharia minha carreira por um cliente.”
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