quinta-feira, 21 de abril de 2011

Suposta loucura de Guerner ainda não convenceu MP


Da redação em 21/04/2011 07:44:15



Ana Maria Campos, Correio Braziliense



A suposta doença mental de Deborah Guerner sempre foi uma das principais teses de sua defesa. A promotora, inclusive, entrou com pedido de aposentadoria por invalidez, sob a alegação de incapacidade para o trabalho. A comissão processante do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que apurou as denúncias contra ela, não acreditou nesta história, tampouco o corregedor nacional do MP, Sandro Neis, quando investigou o caso em sindicância. O relator do processo, conselheiro Luiz Moreira, também deixou claro que considera uma simulação os chiliques protagonizados pela promotora. Em plenário, ele chegou a criticar o fato de o ex-procurador-geral de Justiça do DF Leonardo Bandarra nunca ter questionado a conduta da colega com quem mantinha uma relação tão próxima.



De acordo com Luiz Moreira, Bandarra tinha todas as condições de suscitar a dúvida em relação ao pedido de aposentadoria dela por insanidade mental, uma vez que os dois se falavam sempre por telefone e mantinham encontros. Moreira citou, inclusive, suposto diálogo entre Guerner e Bandarra em que promotora discute com o marido a ideia de inventar descontrole emocional. Na condição de chefe do Ministério Público do DF, Bandarra assinou portaria em que criou uma junta médica para analisar o atestado de saúde de Deborah, para efeito de aposentadoria por invalidez. O CNMP decidiu, no ano passado, anular a medida. A advogada de Bandarra, Gabriela Bemfica, disse na ocasião que o cliente não é médico, atua na área jurídica, e não tinha condições de avaliar a sanidade mental da colega.



A denúncia de fraude processual e falsidade ideológica ajuizada pelo procurador regional da República Ronaldo Albo no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região e que provocou a prisão de Deborah e do marido dela, Jorge Guerner, reforça a convicção de integrantes do CNMP. Albo considerou falso o laudo elaborado pelo psiquiatra Luís Altenfelder, renomado profissional de São Paulo, com formação em psicodrama, fórmula que utiliza como método terapêutico. Formado há 25 anos, ele trabalha em hospitais e mantém consultório médico. Mais uma vez, a prova foi produzida pela própria promotora e encontrada num cofre escondido no jardim da casa de Deborah Guerner, alvo de busca e apreensão decretada pela Justiça. Policiais federais estiveram duas vezes na casa da promotora, para buscar informações e encontraram vídeos comprometedores, no ano passado.



Simulação

Num deles, o psiquiatra aparece ensinando Deborah a forjar a loucura. A aula de simulação foi presenciada por Jorge Guerner. Os dois vão ao armário da promotora e ele mostra como ela deve se vestir. Esse detalhe chamou a atenção de integrantes do CNMP que ouviram, no último dia 6, os gritos dela do lado de fora do plenário, enquanto os conselheiros acompanham a leitura do relatório de Luiz Moreira com as conclusões sobre as denúncias contra Deborah e Bandarra. Para conselheiros ouvidos pelo Correio, fica claro que ela foi ao Conselho orientada pelo psiquiatra, na tentativa de influenciar o julgamento e demonstrar uma doença mental que interessava a ela demonstrar. Deborah Guerner sempre fez questão de reforçar a imagem de insana. Mas quem a conhece conta que, apesar da personalidade forte e do temperamento explosivo, a promotora sempre agiu como uma pessoa que sabe o que faz.



O comportamento de Deborah acabou rendendo muitos problemas. O procurador Ronaldo Albo chegou aos vídeos que a incriminaram por dois motivos. Em mensagem na intranet do Ministério Público do DF, Deborah escreveu que se algo acontecesse com ela vídeos “pipocariam” de várias partes do mundo e ela não ficaria “sozinha na

banguela”. Esse comentário despertou a atenção dos investigadores. Outro detalhe é que a Polícia Federal (PF) só descobriu o lugar onde estava escondido o cofre recheado de evidências contra ela porque uma pessoa que a conhece colaborou nas investigações, ao informar o local secreto. Além de criar problemas pessoais, Deborah sempre acabou prejudicando também o amigo Leonardo Bandarra, filmado em circuito interno da casa da promotora.

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