quarta-feira, 4 de maio de 2011

Documentos comprovam negócios suspeitos do casal Jorge e Deborah Guerner


Documentos comprovam que o marido da promotora e os donos da WRJ Engenharia foram sócios em empresa que tinha interesse em construir o aterro sanitário, tema de reunião com a participação de Deborah Guerner no Ministério Público do DF







Ana Maria Campos







Apesar de estar lotada em uma das promotorias de Fazenda Pública, Deborah apresentou sugestões sobre a administração dos serviços de limpeza pública


Documento da Junta Comercial do Reino Unido — Companies House — atesta a sociedade entre os empresários Jorge Guerner e os irmãos Renato e Roberto Cortopassi, donos da construtora WRJ, na constituição de uma empresa sediada em Londres. Registrada inicialmente como WRJ Engenharia International LLP, a firma que depois passou a se chamar Solurb International LLP estava instalada em endereço nobre da capital britânica, na 7 Welbeck Street, a menos de 2 km do Palácio de Buckingham, a residência oficial da rainha Elizabeth II. As informações, em poder do Ministério Público Federal e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), indicam que a promotora Deborah Guerner participou de reuniões em 2006 no gabinete do então procurador-geral de Justiça do DF, Leonardo Bandarra, em que foram discutidos interesses de sócios do marido dela, sobre contratos de limpeza urbana do DF.




A relação do casal Guerner com negócios de lixo é uma das principais linhas de investigação dos procuradores regionais da República Ronaldo Albo e Alexandre Espinosa, que já ajuízaram três denúncias contra eles no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, relacionadas a outros crimes. Eles tentam agora rastrear suposta influência da promotora em favorecimento a empresas de limpeza. Em novembro de 2006, ela intermediou reuniões em que representantes do Governo do Distrito Federal (GDF) discutiram com o Ministério Público do DF proposta de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) relacionado à terceirização de limpeza urbana da capital, até então sob a responsabilidade exclusiva da Qualix Serviços Ambientais. O mercado seria dividido entre empresas até a realização de uma outra licitação no governo que assumiria em janeiro de 2007.



Aterro sanitário

Deborah Guerner não tinha nenhum motivo funcional para participar das reuniões entre a então governadora Maria de Lourdes Abadia, Bandarra e outros promotores que atuavam diretamente na fiscalização dos negócios. Deborah estava lotada numa das promotorias de Fazenda Pública, sem relação direta com o tema. A proposta do GDF previa entregar sem licitação à WRJ Engenharia Ltda., empresa sediada em Brasília, de propriedade dos irmãos Cortopassi, um dos negócios mais disputados na área do lixo: a implantação e operação do aterro sanitário de Brasília. Um empreendimento que poderia render até R$ 30 milhões por ano.



O TAC não foi assinado por discordância de promotores de Justiça que não aceitaram assinar o documento. Em depoimento prestado ao longo das investigações, o promotor Ivaldo Lemos Júnior, da 5ª Promotoria de Patrimônio Público, responsável pela fiscalização dos contratos de lixo, relatou ter sido procurado por Deborah “três ou quatro dias seguidos” no gabinete dele para conversar sobre limpeza pública. Ela teria apresentado algumas sugestões sobre como deveria ser administrado o serviço. Na conversa, a promotora, segundo Ivaldo, disse que havia estudado o assunto durante o período em que se licenciou do cargo no Ministério Público do DF, durante três anos, para acompanhar os negócios do marido em São Paulo. Segundo o promotor, Deborah defendia a quebra do monopólio da Qualix e a celebração de contratos emergenciais. Ele não assinou o termo.


Na época das reuniões entre GDF e MP, havia a suspeita de que Deborah Guerner era a autora do documento. A defesa da promotora sustenta que os Guerner nunca foram sócios dos Cortopassi e afirma que eles, inclusive, são brigados. De acordo com os documentos da Junta Comercial inglesa, eles desfizeram a sociedade em outubro de 2009.




Sem licitação

Durante o governo de José Roberto Arruda, a demora na conclusão da licitação para o setor provocou uma despesa de R$ 500 milhões com a limpeza pública, em contratos emergenciais, sem licitação, de 2007 a 2009. Nesse período, oito empresas atuaram. São elas: Engetécnica, Serquip, Caenge, Nely Transportes, Delta

Nenhum comentário:

Postar um comentário