quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Candidatura avulsa de Sandro Mabel expõe briga dentro do PR








Tiago Pariz



Publicação: 26/01/2011 08:38 Atualização: 26/01/2011 10:38



O deputado Sandro Mabel (PR-GO) oficializou ontem a candidatura avulsa à Presidência da Câmara e expôs uma briga dentro do partido que vinha sendo mantida nos bastidores. Poucas horas depois do anúncio, caciques do PR divulgaram uma ameaça velada de expulsão para forçar o parlamentar a desistir da empreitada. Apesar da manobra, Mabel, que espera contar com votos de dissidentes e de insatisfeitos com a candidatura oficial de Marco Maia (PT-RS), candidato à reeleição, não descarta abandonar a corrida até a próxima terça-feira, dia da eleição.



Único candidato que se opõe a Maia, Sandro Mabel resistiu à operação montada pelo governo, comandada pelo ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, que conseguiu sufocar todas as candidaturas avulsas até momento, entre elas as de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e de Júlio Delgado (PSB-MG).



O parlamentar por Goiás flertava com a possibilidade de se lançar na corrida pela cadeira mais alta da Câmara dos Deputados, o segundo posto na linha sucessória da Presidência da República, desde o começo do mês. A pressão para ele desistir da ideia aumentou a partir da semana passada. Ele ouviu apelos de Palocci e dos ministros de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, e da Saúde, Alexandre Padilha. Tudo em vão. A insistência de Mabel esgarçou a relação com o secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto, e com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, presidente licenciado da legenda.



Apresentando-se como novidade no processo de escolha do comandante da Câmara, o deputado goiano anunciou a renúncia à liderança do partido para se dedicar a aumentar a musculatura da campanha nesta reta final. Mesmo assim, mantém um discurso cauteloso, classificando sua candidatura de “minúscula”: “Acho que tenho 20% de chances de ganhar”.



Apesar de admitir que sua empreitada pode não vingar, Mabel deixou claro que qualquer desistência será decidida com seu grupo de apoio, e rechaçou ceder às pressões do partido ou do governo. “Não estou desafiando o Palácio do Planalto. Sou da base governista e continuo sendo da base governista. Acredito que tenho mais condições de ajudar a presidente Dilma. Eu não divirjo das ideias do Marco Maia, mas dos compromissos que ele assumiu. Um candidato bancado pelo Executivo é mais difícil de ser independente”, frisou Mabel ao anunciar a entrada na disputa.



Desobediência

Não é essa a visão do PR. Para os caciques da legenda, Mabel peitou o comando partidário, desobedeceu a decisão de apoiar a candidatura petista e criou desnecessários problemas, tanto internos quanto com o governo. A agremiação deve convocar uma reunião oficial para fechar questão sobre o apoio a Marco Maia e desidratar a ofensiva do correligionário. “A Executiva Nacional está pronta e tem poderes para deliberar sobre o assunto. A decisão será tomada até 31 de janeiro. O deputado Sandro é candidato de si mesmo, não tem o apoio do partido. O candidato do PR é o Marco Maia”, disse o ministro dos Transportes. Se fechar questão e Mabel mantiver a candidatura, ele pode ser expulso.



As relações de Mabel com Nascimento e Valdemar Costa Neto foram classificadas por colegas de ambos os lados de “muito ruins” e “desgastadas”. O secretário-geral da legenda teve uma conversa telefônica bastante áspera com o parlamentar na tentativa de forçar a desistência. Para alfinetar os dois, Mabel decidiu antecipar de hoje para ontem o anúncio de sua candidatura. Hoje, Costa Neto e o novo líder da legenda Lincoln Portela (MG) se reúnem com Maia para reforçar o apoio à candidatura petista. “O Sandro é candidato dele mesmo”, sublinhou Portela, que estava ao lado de Mabel durante o anúncio.



Rosquinhas

Dono da fábrica de biscoitos Mabel, o deputado de Goiás pelo PR é famoso por oferecer biscoitos de sua marca para os colegas durante as sessões mais extensas do plenário e das comissões da Câmara. Na entrevista coletiva de ontem para anunciar sua candidatura, uma gamela estava disposta no centro da mesa com as rosquinhas para os jornalistas. No ano passado, Sandro Mabel foi alvo de polêmica ao comentar que o aumento do salário mínimo o beneficiaria porque a população poderia comer mais bolachas de sua marca.





ANÁLISE DA NOTÍCIA

Qual será o lucro?



O rolo compressor do Palácio do Planalto montado para fazer com que Marco Maia fosse candidato único na eleição para a Presidência da Câmara esbarrou na obstinação de Sandro Mabel. O deputado goiano acredita que, mesmo isolado na empreitada, pode ganhar mais do que perder com a candidatura. O que ninguém sabe ainda é como o parlamentar pode lucrar ao desafiar o próprio partido e o governo federal. Na conversa que teve ontem com o ministro Alexandre Padilha, por exemplo, Mabel ouviu a seguinte frase: “Sandro, não consigo ver o que você está vendo para ser candidato”.



Nos bastidores, especula-se que o parlamentar faça um movimento interno para desafiar a força de Valdemar Costa Neto. Ou que pretende assumir o papel de porta-voz de um movimento mais amplo na Câmara, que reúne os insatisfeitos com o PT e com o governo da presidente Dilma Rousseff, para mandar um recado ao Palácio do Planalto. Mabel diz ter hoje o apoio de 130 deputados de todas as legendas contra o suporte oficial de 11 partidos a Marco Maia — PT, PMDB, PSDB, DEM, PP, PR, PPS, PSC, PSB, PDT e PCdoB. Os políticos, pelo menos a maioria deles, não costumam dar ponto sem nó nem fazer movimentos atabalhoados e gratuitos. Resta saber se Mabel operou uma jogada de mestre ou deu um tiro no próprio pé. (TP)



Marco Maia visita Minas



Juliana Cipriani



Belo Horizonte — Em campanha pela reeleição, o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), visitou ontem Minas Gerais, onde se reuniu com 31 dos 53 parlamentares mineiros. O petista engrossou o apoio à sua candidatura e espera chegar no dia da eleição para a Mesa da Câmara, na próxima terça-feira, com o apoio de 13 ou 14 legendas. Até agora, ele conta com o suporte de 11 siglas.



Maia negou, entretanto, que o grande número de partidos o apoiando se torne um problema na hora de acomodar os aliados nos espaços da Casa. “Estamos construindo um apoio alicerçado na visão da proporcionalidade. Cada legenda terá aquilo que as urnas lhe deram. É um instrumento que garante a valorização do parlamento e a condição de pensar uma pauta olhando para o país, para todos os partidos”, afirmou.



Apesar de falar em uma Câmara independente, nem de situação nem de oposição, Maia foi enfático ao comentar a participação do Parlamento no programa de governo da presidente Dilma Rousseff para a erradicação da miséria: “A Câmara vai auxiliar, votando projetos que venham do Executivo e também dos parlamentares que tratem sobre essa matéria”. A crise cambial e a reforma tributária, segundo ele, serão outros temas que estarão em voga na nova legislatura.



Sobre o aumento do salário mínimo — cuja proposta do governo, de R$ 545, tramita no Congresso —, Maia evitou polemizar. Questionado sobre a possibilidade de a Casa rever esse valor, o deputado preferiu se esquivar. “Nosso papel será o de conduzir isso da forma mais prática possível, respeitando opiniões, posições, e garantindo que tanto oposição quanto situação tenham o direito de expressar seu posicionamento”, afirmou.



Mineração

Na visita a Belo Horizonte, o parlamentar gaúcho aproveitou para fazer uma média com os mineiros e defendeu a revisão dos royalties da mineração, um dos principais pleitos do estado, que se sente prejudicado com o atual modelo da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). “É um tema que interessa não só a Minas, mas a todo o país. Precisamos fazer com que as riquezas minerais sirvam para a construção de uma política pública que qualifique a vida do brasileiro.”

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