quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Dilemas tucanos






Seu medo (do PSDB) do confronto interno terá que ser superado, pois não enfrentá-lo é o caminho certo para um novo fracasso em 2014





Dilemas tucanos





Neste início de ano, o PT e os partidos da base aliada estão mudando, procurando ajustar-se à realidade do governo Dilma. O modo como funcionaram nos últimos anos e se relacionaram com o Planalto não se coaduna com os novos tempos. O descompasso mais visível acontece com o PMDB.





Na oposição e, especialmente, no PSDB, a necessidade de transformações é ainda maior. Nada mais natural, após a terceira derrota consecutiva para Lula e o lulismo. Se o governismo, bem-sucedido nas urnas, é obrigado a se renovar, o que dizer das oposições?





O principal partido oposicionista tem que contrariar aquilo a que nos acostumamos a ver como sua natureza mais profunda. Depois de ter ficado famoso por sua dificuldade de tomar decisões, por sua incapacidade de sair “de cima do muro”, ele agora tem que explicitar suas diferenças e contradições.





Sem vida partidária real (como ficou claro em 2009, quando não conseguiu fazer prévias entre seus filiados por sequer saber quantos são), tudo no PSDB se resolvia “en petit comité”. Na sua história, ficaram famosas algumas cenas, como a escolha do candidato presidencial em 2006, decidida na mesa de jantar de um luxuoso restaurante em São Paulo, presentes quatro pessoas.





Hoje, a tendência quase atávica que os tucanos têm de evitar o dissenso não se sustenta mais. Seu medo do confronto interno terá que ser superado, pois não enfrentá-lo é o caminho certo para um novo fracasso em 2014.





O fulcro do problema é o serrismo, o pequeno, mas loquaz grupo de seguidores do ex-governador José Serra. Como tem um espaço desproporcional na chamada “grande imprensa” e conta com a simpatia de jornalistas nos principais veículos, acaba parecendo maior do que é. Os serristas são poucos, mas fazem barulho.





Apesar de seu pífio desempenho na eleição (pois foi pior que Alckmin no primeiro turno e só chegou ao segundo pegando carona em Marina), Serra quer ser a liderança maior e o candidato natural do PSDB à sucessão de Dilma. Acha que pode repetir a trajetória de Lula: de tanto tentar, acabar chegando à Presidência.





Sonhar é um direito de todos, mas não faz sentido querer que o conjunto da oposição se submeta a projetos pessoais, com chances de sucesso remotas (para dizer o mínimo). As figuras lúcidas do partido percebem que a carreira política do ex-governador acabou.





A esse núcleo serrista se agregam outras correntes tucanas igualmente presas ao passado, nenhuma capaz de representar uma opção nova para o Brasil. Seu expoente mais ilustre é Fernando Henrique, que, quando fala da presidenta, insiste em um discurso de rejeição invejosa que perdeu a graça e a inteligência.





Quem não é serrista no PSDB não tem escolha: ou se submete ou assume publicamente sua discordância. Em outras palavras, contraria o típico peessedebismo de deixar as coisas andar para ver como ficam.





No fundo, isso é bom para o PSDB, ao obrigá-lo a se manifestar sobre o que pretende. Melhor a discordância exposta ao sol que o consenso falso. A briga de uns contra os outros sempre existiu em surdina.





Esta semana, um episódio até cômico ilustra os dilemas tucanos. É pequeno, mas revelador.





O PSDB tem, agora no início de fevereiro, seu tempo de propaganda partidária do semestre. É uma janela sempre importante e, agora, ainda mais, por ser a primeira oportunidade de reencontro do partido com a grande maioria da população, somente atingível pela televisão.





O natural seria aproveitá-la para aquilo que os marqueteiros chamam reposicionamento. Seria uma boa hora para mostrar-se com a identidade que o partido adotará nos próximos quatro anos.





Pois bem, pela insistência do serrismo em protagonizar o programa, o resultado é que ninguém o estrelará. Nem Serra, nem Aécio aparecerão, e só seu presidente e FHC poderá ser visto. Ou seja, a cara do PSDB continuará a ser a de sempre.





Até quando o PSDB estacionará em impasses desse tipo? Quando é que a maioria vai mostrar à minoria que seu tempo passou?Marcos Coimbra

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