Sessão solene amanhã marca o início dos trabalhos dos deputados eleitos em outubro. Agnelo Queiroz enviará mensagem em que apresentará prioridades para os próximos quatro anos, mas na primeira semana a pauta é interna: divisão da estrutura de poder na Casa
Ricardo Taffner
Publicação: 31/01/2011 08:00 Atualização: 31/01/2011 08:56
Acordos para a composição da Mesa Diretora, no primeiro dia do ano, darão o tom para a formação das comissões temáticas e indicação dos deputados para Corregedoria e Ouvidoria
Começa amanhã o ano legislativo. Apesar de terem sido empossados em 1º de janeiro, os deputados distritais passaram o mês de recesso. Nos últimos dias, eles têm aproveitado o tempo livre para articular a composição da estrutura de poder na Câmara Legislativa. Em jogo, estão as comissões da Casa, além das vagas de ouvidor e corregedor. Representantes do chamado Grupo dos 14 disputam com os deputados dos blocos ligados ao partido do governador Agnelo Queiroz (PT). Por sua vez, o governo tenta enfraquecer o grupo para evitar surpresas na votação dos projetos.
A abertura dos trabalhos será marcada com a realização de solenidade na Câmara. Para a sessão, foram convidados o governador, secretários e autoridades. Agnelo prepara mensagem para os deputados com foco nas prioridades do governo. Ele quer o apoio para as medidas consideradas emergenciais, principalmente, na área da Saúde e nos temas relacionados à execução orçamentária. Entretanto, o petista ainda não confirmou presença no evento de amanhã.
Na última sexta-feira, Agnelo se reuniu com os deputados da base para relatar esforços do início de gestão. Ele aproveitou para apresentar o líder de governo, Wasny de Roure (PT), e o assessor parlamentar do GDF, Wilmar Lacerda. A tarefa dos dois será intermediar os interesses do governo e promover as negociações com os deputados. Para ajudar nas conversas, Agnelo fez um importante sinal ao dizer que dará atenção especial às emendas parlamentares.
Um dos objetivos é tirar o foco do Grupo dos 14. Alguns deputados chegam a afirmar que o “blocão” foi criado apenas para a formação da Mesa Diretora e não existe mais. Entretanto, nos bastidores, a notícia é de que o grupo está cada vez mais forte, com reuniões frequentes dos participantes para deliberarem sobre os movimentos. “Isso é movimento natural de início de governo, que não se torna problema. É um mecanismo de proteção normal e apenas questão de momento”, avalia Wasny.
De toda forma, o grupo é um entrave para o governo. A primeira atuação desses deputados ocorreu logo após a posse dos distritais e do governador, em 1º de janeiro. Eles ensaiaram tirar vaga na Mesa Diretora que seria do bloco mais próximo dos petistas, formado pelo PSB, PPS e PDT. O deputado Chico Vigilante (PT) denunciou o “golpe” e esquentou a disputa. Para ajudar nas conversas, foram convocados o vice-governador, Tadeu Filippelli (PMDB), e o secretário de Governo, Paulo Tadeu (PT). Depois de oito horas de negociações, o grupo cedeu. Em troca, há promessa de espaço em comissões e cargos em órgãos públicos para os deputados, inclusive, da oposição. Alguns distritais se queixam de que promessas não foram cumpridas e ameaçam voltar com carga contra a base.
Análise da notícia
O maestro da reconstrução
» ANA MARIA CAMPOS
Com o início dos trabalhos da Câmara Legislativa, o governo Agnelo Queiroz, de fato, começa a funcionar. No primeiro mês, com os deputados de férias, o novo governador adotou medidas importantes na saúde, na divisão dos cargos do Executivo e na abertura de investigações sobre projetos suspeitos herdados de gestões anteriores. Mas agora é dada a largada para o início real das relações políticas. Agnelo vai precisar aprovar projetos importantes e remanejar recursos. Em tese, ele passa a sofrer fiscalização dos parlamentares.
Depois dos escândalos que os cidadãos do DF assistiram, com indícios de pagamentos de mesada a distritais e de negociatas para aprovar projetos, Agnelo é o maestro da
reconstrução das relações políticas. O chefe do Executivo certamente não tem como evitar que distritais vendam posições, mas tem o compromisso de impedir barganhas no relacionamento com o Legislativo.
Ser leal a esse princípio provocará insatisfações entre políticos acostumados a usar o mandato para turbinar negócios. Agnelo conta com base de apoio ampla. São 19 partidos. Na Câmara, tem maioria. Mas não se pode dizer que terá vida fácil. O contato com distritais baseado em princípios éticos dificulta a aprovação de projetos, mas o eleitor deixou claro que não quer uma nova Operação Caixa de Pandora.
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