segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Comentário


Torcida por Dilma



Houve uma cena na posse da presidente Dilma que escapou à atenção da maioria dos jornalistas reunidos no mezzanino do Palácio do Planalto. Foi quando Dilma, depois de discursar no Congresso, desfilava em carro aberto cumprimentando o povo, e Lula, com a faixa no peito, irrompia no salão principal do palácio para recebê-la no alto da rampa.




O tempo foi curto para que Lula apertasse todas as mãos que se estendiam à sua passagem e atendesse a todos os pedidos de posar para fotos. Mas ele não perdeu a chance de se deter diante de alguns dos futuros ministros de Dilma, vários deles seus ex-ministros, para fazer recomendações de última hora e distribuir instruções.



Atrasou-se alguns minutos e foi obrigado a sair correndo dentro do salão de mãos dadas com dona Marisa para se postar no alto da rampa. Mais tarde, depois de transferir a faixa para Dilma, desceu a rampa junto com ela e mergulhou no meio do povo na Praça dos Três Poderes. Agarrou e foi agarrado. Beijou e foi beijado. Chorou.



A Lula não se poderá negar o título de o mais informal e emotivo presidente da República da história recente do país. Mas há muito de cálculo na informalidade e na emoção. Foi assim que ele conseguiu estabelecer uma forte ligação com as pessoas e alimentar a adoração de uma grande parcela delas.



A continuidade que Dilma representa está na tentativa de resgate ou de aperfeiçoamento das promessas de campanha de Lula em 2002 e 2006. Fora isso, Dilma será um presidente mais voltado para a administração e menos para a platéia. Lula deverá ajudá-la de dois modos: aconselhando-a e insinuando seu eventual possível retorno no futuro.



Há também muito de cálculo político na admissão do retorno. É tudo o que mais teme a oposição. Por isso ela criará o mínimo de sérios problemas para Dilma com a esperança de que Lula não volte em 2014. Prefere, mesmo que seja para perder, enfrentar Dilma, candidata à reeleição, a Lula, que outra vez eleito poderá se reeleger.



Daqui até 2018 terá se passado muito tempo. Uma nova geração de líderes políticos emergirá com mais força. A idolatria por Lula terá esfriado. E – quem sabe? – o próprio Lula, com mais de 70 anos de idade, poderá ter ganhado o gosto por outras coisas que não seja apenas a disputa de eleições.



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