domingo, 2 de janeiro de 2011

Reza, choro e frases feitas marcaram posse dos 24 deputados distritais




Aberta apenas a familiares e convidados, a cerimônia foi marcada por lágrimas e promessas de moralização. Alguns invocaram a proteção divina para tentar dar conta da nova tarefa







Diego Amorim



Mara Puljiz



Publicação: 02/01/2011 08:40 Atualização:



Visivelmente cansados depois da noite de réveillon, os 24 deputados distritais tomaram posse ontem no plenário da Câmara Legislativa. A solenidade começou às 9h48, com 18 de minutos de atraso. Durou meia hora, sem discursos prolongados nem vaias (somente familiares e convidados puderam acompanhar o rito de perto). Cristiano Araújo (PTB), 27 anos, foi o primeiro a receber certificado e broche de parlamentar, por ser o caçula da turma. Além de defender os interesses dos moradores do Distrito Federal, os eleitos terão a função de fiscalizar o Executivo pelos próximos quatro anos. No primeiro dia de trabalho, cada um subiu ao palanque e prometeu lealdade ao mandato.





Chico Leite (PT), o mais votado, encontra Eliana Pedrosa (DEM): "Saúde e creches devem ser prioridades, e não obras megalomaníacas", defendeu ele

O peemedebista Benício Tavares chegou antes dos colegas para a quinta posse. Voltou a dizer que vai valorizar projetos voltados para os deficientes físicos. A postos em frente ao plenário antes mesmo das 9h, reclamou do horário da cerimônia. “Podiam deixar isso para a noite. Está todo mundo de olho baixo”, brincou. O deputado Patrício (PT), reeleito, também aparentou cansaço. “A última semana foi de muito trabalho. Vamos torcer para que dê tudo certo em 2011. O principal desafio é resgatar a confiança do povo”, avaliou o parlamentar, que está prestes a ser promovido em razão do tempo de serviço na Polícia Militar e, por isso, resolveu abdicar da patente de cabo no nome político.



A nova composição da Câmara conta com parlamentares de 17 siglas diferentes. Raad Massouh, um dos dois integrantes do DEM, assumiu o cargo de deputado no início de 2010. Antes, era suplente de Leonardo Prudente (sem partido), envolvido no escândalo da Caixa de Pandora (veja memória). Eleito, sofreu, em novembro do ano passado, um acidente vascular cerebral (AVC), de que ainda se recupera. Apesar da recente crise política, Raad está confiante em dias melhores na política local. “Avalio este novo governo com esperança. Brasília não merecia passar pelo que passou”, comentou.



Veterano, Alírio Neto (PPS) tomou posse, mas será secretário de Justiça, função já exercida por ele no governo de José Roberto Arruda. Ao comentar que a “democracia é muito trabalhosa”, Alírio se mostrou satisfeito em ceder a cadeira na Câmara Legislativa para a suplente, a correligionária Luzia de Paula. “O trabalho coletivo é mais difícil. Como secretário, a gente se senta com o governador e resolve logo”, comparou.



Os 24 distritais tinham na ponta da língua frases de efeito, mas a cerimônia de posse não abriu brechas para longos discursos individuais. Depois da solenidade, Chico Leite, o mais votado, com 36,8 mil votos, garantiu ao Correio que vai defender serviços públicos de qualidade e a moralização nos gastos do governo. “Saúde e creches devem ser prioridades, e não obras megalomaníacas”, analisou. Outro que criticou o mau uso dos recursos públicos foi o deputado Cláudio Abrantes (PPS), policial civil que ganhou fama ao interpretar Jesus Cristo na Via Sacra no Morro da Capelinha, em Planaltina. “É melhor ser associado ao Cristo do que a qualquer outra imagem. Vou zelar pela ética”, prometeu.



Clamando proteção divina, como fez muitos outros deputados, Washington Mesquita (PSDB) participou da solenidade de posse acompanhado do padre Moacir Anastácio, sacerdote que arrebanha multidões em suas celebrações e foi um dos grandes responsáveis pela vitória do tucano. “Chego a esta casa com a unção do Espírito Santo”, anunciou na entrada o parlamentar, que se disse “conduzido por Deus” ao longo da campanha.



Os distritais



» Agaciel Maia (PTC)

» Aylton Gomes (PR)

» Benedito Domingos (PP)

» Benício Tavares (PMDB)

» Patrício (PT)

» Celina Leão (PMN)

» Chico Leite (PT)

» Chico Vigilante (PT)

» Cláudio Abrantes (PPS)

» Cristiano Araújo (PTB)

» Dr. Michel (PSL)

» Eliana Pedrosa (DEM)

» Evandro Garla (PRB)

» Israel Batista (PDT)

» Joe Valle (PSB)

» Liliane Roriz (PRTB)

» Luzia de Paula (PPS)*

» Olair Francisco (PTdoB)

» Raad Massouh (DEM)

» Rejane Pitanga (PT)**

» Rôney Nemer (PMDB)

» Washington Mesquita (PSDB)

» Wasny de Roure (PT)

» Wellington (PSC)





Flashes

» Celina Leão, afilhada política da família Roriz, chamou a atenção com um vestido na altura do joelho. A musa da Câmara Legislativa caiu num choro incontido depois de receber o broche e o diploma de deputada. Antes de voltar ao lugar, parou para abraçar e beijar o marido, e chorar um pouco mais nos ombros dele.



» Arlete Sampaio (PT) também não conteve as lágrimas na hora de ir ao púlpito. Às 10h em ponto, a deputada agradeceu a confiança dos eleitores e, com a voz embargada, prometeu honrar o mandato. No entanto, ela não ficará na Câmara. Arlete será secretária de Desenvolvimento Social do governo de Agnelo Queiroz.



» Liliane, a filha de Joaquim Roriz que vai liderar a oposição na Câmara, pareceu deslocada no primeiro dia de trabalho. Ela participou da cerimônia sentada na última fileira do plenário. Na posse do novo governador, no auditório, não foi vista.



» Raad Massouh não largava mão do masbahan, também chamado de terço islâmico. O deputado é natural da Síria. Em novembro do

ano passado, teve um acidente vascular cerebral (AVC). Na posse, aparentava estar mais magro do que de costume.



» Cabo Patrício, antes da cerimônia, espalhou que queria ser chamado apenas de deputado Patrício. No próximo ano ele deixará a função na Polícia Militar, em razão do tempo de serviço. Mesmo com o pedido insistente, Patrício foi atrelado à patente de cabo diversas vezes durante a solenidade.



» Cristiano Araújo, 27 anos, é o mais novo dos deputados. Foi o primeiro a subir ao palanque e discursar. Mas chamou a atenção mesmo foi pelo visual moderno de sempre: cabelo espetado e penteado para frente.





Entre calma e ansiedade



Dez dos empossados ontem são iniciantes na vida política. Todos chegam com promessas de renovação. O delegado Márcio Michel de Oliveira, ex-chefe da 35ª Delegacia de Polícia, em Sobradinho II, assegura que quer levantar a bandeira contra a corrupção. “Pisar aqui é uma coisa inusitada para quem mexeu com bandido durante 27 anos. Mas vou ser implacável, como sempre fui. Mudo de casa, mas não de personalidade”, afirmou ele, que tomou posse sob cuidados médicos. Na última quarta-feira, Michel sofreu um princípio de infarto. Com a pressão nas alturas, foi parar na unidade de terapia intensiva (UTI) e só recebeu alta no dia 31.



Entre os estreantes, havia ansiosos, como Olair Francisco (PT do B). Ele chegou para a cerimônia depois de menos de quatro horas de sono. “É ano-novo. Tinha que aproveitar ao máximo, para começar bem”, comentou. Andando de um lado para o outro do salão que dá acesso ao plenário da Câmara, aguardava o momento de ser empossado. “O dia chegou”, disse Olair, dono de uma rede de lojas de calçados que o ajudou a ser eleito.



Sem desgrudar do celular, a principiante Celina Leão (PMN) postou no Twitter, já dentro do plenário, que seria empossada em instantes. Quando o anúncio se concretizou, chorou ao descer do palanque. Antes de voltar para o lugar, foi direto abraçar o marido, o engenheiro Fabrício Faleiros, e uma amiga. “Ser eleita era um sonho que foi conquistado com muita dificuldade. Quero ser uma parlamentar de gente. Os deputados de hoje estão muito longe das pessoas”, comentou. Ela promete priorizar projetos voltados para a juventude.



Eleito com 14.073 votos, o ex-diretor-geral do Senado Federal Agaciel Maia (PTC) estava à vontade no primeiro dia como deputado distrital. Foi bem recebido pelos colegas e, ao invés das vaias ouvidas na solenidade de diplomação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do DF, recebeu aplausos de um plenário lotado ao aceitar o broche de parlamentar. “Estou começando uma nova vida. Tenho confiança no meu trabalho.” (DA e MP)





Memória

Caixa de Pandora abalou a casa



Em 27 de novembro de 2009, a Polícia Federal (PF), em parceria com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), deflagrou a Operação Caixa de Pandora para investigar um suposto esquema de corrupção. A ação teve origem nos depoimentos de Durval Barbosa, que ocupou o cargo de secretário de Relações Institucionais do DF. Com a ajuda de escutas ambientais e gravações de vídeos, ele afirmou que o governo pagava propina aos parlamentares para conseguir aprovar projetos na Câmara Legislativa. Os vídeos gravados por Durval revelaram cenas que chocaram a opinião pública e resultaram na prisão do então governador José Roberto Arruda.



As denúncias também abalaram a imagem da Câmara. Filmado colocando dinheiro até nas meias, o então presidente da Casa, Leonardo Prudente (sem partido), renunciou. O mesmo caminho tomou Júnior Brunelli (sem partido), que ficou conhecido ao protagonizar a “Oração da Propina”. Eurides Brito (PMDB), também filmada guardando maços de dinheiro na bolsa, foi cassada. Em dezembro do ano passado, a Caixa de Pandora teve mais um capítulo: os promotores de Justiça do DF Leonardo Bandarra e Deborah Guerner passaram a ser investigados por suspeita de envolvimento de corrupção no governo Arruda. Diante da denúncia, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) determinou por unanimidade o afastamento deles por 120 dias, até que sejam concluídas as apurações. (DA e MP)

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