domingo, 2 de janeiro de 2011

Brasilienses listam demandas a serem atendidas pelo GDF







Leilane Menezes



Mariana Moreira



Publicação: 02/01/2011 08:00 Atualização: 02/01/2011 00:29



Longe da agitação do centro da cidade, Brasília parecia adormecida, na primeira manhã do ano. As ruas, vazias, silenciaram. Enquanto o novo governador do Distrito Federal tomava posse na Câmara Legislativa, o povo começava 2011 à espera de renovação. Alguns ficaram no Plano Piloto para assistir pessoalmente à cerimônia de posse.





Jacira Marques: "Samambaia tem um lixão que poderia ser transformado em área de lazer. A gente se cansou de sofrer aqui"

A maioria, porém, preferiu acompanhar pela televisão a transferência da responsabilidade de governar a capital do país. Ainda houve os que se mantiveram alheios ao momento, como o vendedor ambulante Maurício Iaza, 34 anos, morador do Recanto das Emas. “Nem me lembrava que tinha posse hoje. Não acredito muito em mudança, então para que perder meu tempo?”, justificou.



A quadra de esportes da Praça do Bicalho, em Taguatinga, também não ficou vazia, apesar da chuva que castigou a cidade durante a manhã inteira. Alheios à liturgia política, moradores da região aproveitaram a manhã de sábado para manter em dia o hábito das peladas semanais. Entre uma jogada e outra, o pedreiro e armador Agnaldo Avelino, 35 anos, diz esperar investimentos mais consistentes em esporte e lazer: “As quadras precisam de reparos e coberturas. Futebol é a alegria de todos nós”.



Não muito longe dali, em Ceilândia, um grupo eclético se reuniu ao redor de uma badalada mesa de dominó, sem qualquer sinal de radinho, internet ou notícias de última hora vindas do Palácio do Buriti. “Não vamos acompanhar a posse, mas estamos torcendo pelo governador. Mas não posso aplaudir ainda, nem o vi trabalhando”, pondera o vigilante Eduardo Carlos da Cunha, 54 anos. Além da tradicional expectativa de melhorias na educação e na saúde, ele espera por ciclovias nas cidades e mais investimento na área social.



Mais otimistas, os ex-colegas de Agnelo Queiroz no Hospital Regional do Gama (HRG) acompanharam o momento com grande expectativa. Ontem, eles assistiram a tudo pela televisão. “Todos gostam muito dele aqui. Quando Agnelo fez campanha para deputado, recebeu apoio dos colegas; para governador, também. Isso porque a gente se lembra dele como um médico muito solidário, atencioso e educado”, disse Eliane de Oliveira, 45 anos, moradora do Gama e auxiliar de enfermagem no HRG.



Agnelo formou-se em medicina na Bahia, mas veio para Brasília nos anos de 1980 para cursar especialização. Durante sua carreira na rede pública do DF, atuou na cirurgia geral. “Ele gostava mesmo do pronto-socorro, da emergência. Mesmo depois de entrar na política, não deixou de visitar o HRG. A expectativa agora é que ele fortaleça a atenção básica, em todos os hospitais. Os profissionais do pronto-socorro trabalham no limite do possível”, disse Eliane. Agnelo é lembrado como profissional competente, que se destacava por oferecer tratamento humanizado aos pacientes. Em outros tempos, seus colegas de trabalho não imaginavam que o doutor, por mais politizado que fosse, viria a se tornar o chefe do Poder Executivo.



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Nas ruas do Gama e das cidades vizinhas, muita gente parou para assistir à posse pela televisão. O padeiro Sebastião Teixeira, 43 anos, morador de Santa Maria, não pôde ir à Câmara Legislativa, por conta do trabalho. Mas fez questão de ligar a TV. “Fiz campanha para Dilma e Agnelo, pedi voto para eles na rua. Confio neles por causa do Lula”, explicou.



Uma breve conversa é o suficiente para saber o que o brasiliense espera: mais qualidade na rede pública de saúde e no transporte coletivo, e mais segurança, principalmente. “O transporte é horrível, não pode piorar”, resumiu a assistente administrativa Euzane Severo, 50 anos, que vive no Gama. A comerciante Ivonete Alves Silva, 43, da mesma cidade, pede ao novo governador mais polícia nas ruas. “Já cansei de me deitar no chão, ameaçada por bandido. Chega de assalto. Chega também de descaso na saúde. O povo sofre demais”, desabafou Ivonete, dona de uma distribuidora de bebidas.



Em frente à loja de Ivonete, avista-se outro desafio de Agnelo: melhorar as vias do DF. A rua tem crateras abertas no asfalto. Há acidentes com frequência. Um morador da cidade, conhecido por sua ampla visão para os negócios, abriu uma borracharia em frente ao trecho danificado. “Todos os dias, alguém fura o pneu ou bate o carro ali. E eu sei que o DF todo está assim. O governador vai ter que trabalhar muito”, advertiu Ivonete.



Nem a família reunida diante da televisão, na torcida pelo novo governador, fez o técnico em saúde pública Francisco Hélio de Souza, 57 anos, desistir de ver de perto a cerimônia de posse. Ontem, ele esperou pacientemente pelo ônibus que o levou à Praça do Buriti. “Gosto de acompanhar as coisas de perto. É mais fácil cobrar pessoalmente do que por telefone.” Souza não escondia sua esperança nas propostas de governo de Agnelo Queiroz. “Estou indo para mostrar que estarei do lado dele 24 horas por dia. O governador precisa investir em saúde pública, segurança, saneamento básico. Também precisa rever a situação dos condomínios e investir nas Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs”, aconselha.



Para mudar

Sem a mesma disposição do técnico, foi diante da TV que a enfermeira Edna Cristina Chaves, 42 anos, se postou, desde 7h, para acompanhar as solenidades de transferência de cargo em todo o país. “O Agnelo está pegando o maior pepino do país. Tem que consertar muita coisa em pouco tempo. É preciso um trabalho social mais forte, para dar assistência a tantas crianças abandonadas. O consumo de drogas também é uma preocupação. Brasília está se transformando em uma cracolândia.”



Outra eleitora a reconhecer a tarefa hercúlea que o novo ocupante do Palácio do Buriti terá de enfrentar, a dona de casa Jacira Marques, 59 anos, estava confiante em uma revolução no Distrito Federal. “Torço para ele desarmar a bomba atômica que é esse lugar. Um dos problemas é combater a bagunça do lixo. Samambaia, por exemplo, tem um lixão sem fim que poderia ser transformado em área de lazer. A gente se cansou de sofrer por aqui.”





Joaquim Fernandes

Avesso a multidões e a muito movimento, o aposentado Paulo Roberto Pires, 66 anos, preferiu comemorar o início da nova gestão em um bar, perto de casa. Na companhia dos amigos, não poupou conselhos ao chefe do Executivo local: “Ele tem que ser duro, não pode apaziguar, senão ficará tudo do mesmo jeito e todos ficarão frustrados. Ele foi eleito para mudar as coisas”, lembra.





Eu Acho...

“É difícil eleger uma prioridade, porque a sociedade tem necessidade de tudo e há muitas coisas para serem resolvidas. É preciso investir na segurança, treinar mão de obra e aumentar efetivo. Aqui na minha loja, já fui vítima de dois assaltos. Nos dias em que não há muitas lojas abertas, a loja funciona normalmente, mas mantenho as grades de segurança. Mas toda troca de governo nos deixa entusiasmados, acreditando que algo irá mudar.”



Joaquim Fernandes do Nascimento, 52 anos, comerciante, morador de Ceilândia

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